segunda-feira, agosto 30, 2004

As meias

De manhã, quando abro minha gaveta de meias, fico impressionado com as variações de tom que podem existir de uma mesma cor. De azul até se entende. Mas preto? Ora, preto deveria ser apenas preto! Mas não, existe o mais preto, o menos preto, o mais ou menos preto... Às vezes chego a tirar da gaveta cinco pés de meia de cor preta, todos diferentes um do outro! Se consigo juntar dois de cores iguais... o comprimento é diferente!

Meia de homem deveria ser tudo igual. Alguém olha para meia de homem? Alguém consegue enxergar meia de homem? Com certeza você nunca ouviu alguém dizer a um homem: "Bonitas as suas meias!" Também nunca deve ter escutado um comentário assim: "Como Fulano se veste bem! As meias, então..." Nem na intimidade as meias são notadas. Em geral, elas são jogadas para bem longe, com votos de que levem consigo todo o chulé.

Pensando bem, as meias foram feitas para passar despercebidas. Se ninguém lembra das meias que você usou ontem, é sinal de que escolheu bem. Se lembram, bom, aí alguma coisa saiu errada. "Você viu as meias do Fulano? Que ridículas, hein?" As meias também aparecem quando você não quer que elas apareçam. Aí elas só faltam brilhar no escuro. "Você reparou que as meias do Beltrano estavam rasgadas?" Ou: "Já notou que o Cicrano está usando meias diferentes?" Se suas meias continuarem chamando muito a atenção, não custa também dar uma verificada no comprimento das calças.

Em suma, as meias são o paradoxo da indumentária masculina: é a única peça de roupa que você tem que escolher bem para ninguém notar.