segunda-feira, agosto 23, 2004

Maioria no Orkut. E daí?

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Sinceramente, não consigo entender essa euforia pelo fato de os brasileiros estarem em primeiro lugar no Orkut. Se existisse realmente uma competição, uma gincana, alguma recompensa concreta, eu até compreenderia. Mas não, é apenas uma fantasia na cabeça de gente que percebeu que o Brasil estava subindo na estatística e resolveu promover uma campanha de convites em massa. Se ao menos os estrangeiros, em especial os americanos, tivessem comprado a idéia e entrado na disputa, eu também aceitaria. Mas aconteceu exatamente o contrário: a invasão brasileira afugentou os americanos. Então, que vantagem é essa de ganhar uma competição em que só existe realmente um querendo competir? É mais ou menos como a família dentro do carro na estrada e o garoto começa a dizer "passa dele, pai, passa!" E assim o motorista começa a ultrapassar e se torna vencedor de uma corrida que só existe na fantasia do filho dele.

Eu estou na Internet desde 1996 e costumo freqüentar sites de discussão em português e em inglês. Em geral, o pré-requisito para participar de discussões em inglês é fluência no idioma. Quem não é fluente mas tenta mesmo assim acaba se sentindo excluído e não fica muito tempo. É um processo de seleção natural. Já no Orkut, como a maioria esmagadora é de brasileiros, as comunidades em inglês foram tomadas por gente escrevendo metade em português, metade em inglês macarrônico. E como são maioria, não se sentiram excluídos nem um pouco. O resultado é que eu acabei saindo de alguns grupos, como Beatles, Pink Floyd e David Bowie, pois me senti constrangido de ver aquela brasileirada toda invadindo e corrompendo as normas de comunidades criadas por estrangeiros. Eu escrevia em inglês, mas me sentia estranho, pois quase todos os que respondiam - alguns em português - eram brasileiros. Se eu criasse uma comunidade em português, não iria gostar que começassem a postar mensagens em alemão ou sueco.

Mas também não concordo com essa visão maniqueísta que se está atribuindo ao Orkut. Tem gente mandando fazer camisetas com os dizeres "Não Estou no Orkut" ou "Não Tenho Nenhum Amigo no Orkut". Pra que isso? Ser chamado para o Orkut não é como ser convidado para a Amway ou a Herbalife, que irá mudar radicalmente a sua vida, conquistar sua independência financeira e torná-lo um homem rico. Também não é como o chamado da Igreja Universal, que irá curá-lo de todos os males, câncer, AIDS, alcoolismo, verruga, unha encravada, alergia, o que você tiver. É apenas um site a mais na velha e boa Internet. Teve o mérito de sistematizar num mesmo endereço várias coisas boas que já existiam espalhadas pela web, como grupos de discussão, por exemplo. E o fato de ele ter-se tornado um "site da moda" entre os brasileiros facilita o encontro de velhos amigos num lugar só.

Chega agora a notícia de que o Orkut está admitindo Coordenador de Suporte com fluência em português do Brasil. Isso mostra que os administradores do site estão sensíveis ao perfil de seus usuários e querem continuar fornecendo o melhor serviço possível. Existem também boatos de que será criado um Orkut em português. Imagino que será algo como já existe no Yahoo, em que os ambientes são separados por nacionalidade. Quem quiser se inscrever em grupos estrangeiros até pode, mas tem que percorrer um caminho mais longo, passando para o outro lado da divisa virtual. Quem está no site brasileiro só enxerga grupos do Brasil. Se isso for implementado no Orkut, será benéfico para todos. Porque o que acontece hoje é que o brasileiro vê uma comunidade com nome de "Beatles", "Rolling Stones" ou "Pink Floyd" e logo pensa "oba, é com essa que eu vou", sem se preocupar em saber a nacionalidade ou o idioma do grupo. Com a demarcação virtual de fronteiras, os brasileiros continuarão usando o site à vontade e os americanos terão espaço para crescer no Orkut no seu ritmo, convidando amigos de forma mais seletiva, como é o jeito deles. Considerando que o site foi criado nos Estados Unidos, é mais do que justo.