quinta-feira, agosto 19, 2004

O Alho



Tudo começou num restaurante em que serviram frango desossado com e sem alho. Experimentei os dois e tive a chance de constatar o sabor especial que o alho acrescenta aos alimentos. Depois, fui descobrindo outras opções, como pizza de alho e óleo, massa com alho e óleo e um dos poucos verdes que realmente como com prazer: brócolis ao alho e óleo. Até que um dia a curiosidade foi maior e resolvi comer um dente de alho cru, para ver que gosto tinha. Chegaram a me sair lágrimas. Mas não me dei por vencido. Dei um tempo e tentei outras combinações, como alho com bolachas e tahine. Ou com maionese. Com patê de fígado. Certa noite cheguei a comer uma cabeça inteira de alho cru. Foi uma experiência inesquecível. Meus colegas também não esqueceram.

Eu costumo dizer que o alho é uma das poucas comidas que a gente segue desfrutando mesmo depois de engolir. Seu sabor continua se fazendo sentir por quase todo o aparelho digestivo. E a sensação de bem-estar é inigualável. Além disso, o alho tem várias propriedades benéficas ao organismo. Dizem que reduz o colesterol e previne câncer, enfartes, problemas arteriais, tromboses, derrames cerebrais, bronquites, insônia, resfriado e diabetes. Recentemente li em uma revista que também pode ser usado como repelente de mosquito. Sério! Nunca tinha ouvido falar, mas deve ser verdade. Se faz o mesmo efeito com pessoas, por que não com insetos?

Esse é o dilema dos amantes do alho. Sabem que, se se entregarem ao alimento de sua paixão, se tornarão "personas non gratas" por um período de pelo menos 24 horas. O mau odor se manifestará não apenas no hálito, mas também pelos poros. E não adianta acreditar em mitos: complementar o tempero com salsa, mascar hortelã, nada disso neutralizará o cheiro. Por isso mesmo, a ingestão de alho se reveste de uma condição quase ritualística, mística até. Algumas pessoas escolhem um momento estratégico para comer alho – sexta à noite, por exemplo – e depois se submetem a uma reclusão voluntária. Outras procuram encontrar um cônjuge ou cercar-se de amigos que comunguem de seu paladar. Pensando bem, assim como existem colônias de nudismo e centros budistas, poderia haver também um retiro gastronômico para consumidores de alho. De preferência longe da cidade. Se fosse na Grande Porto Alegre, poderia ser em Guaíba, por exemplo, um pouco adiante da Riocell.

Já procurei no Orkut alguma comunidade em português sobre alho, mas só o que achei foram títulos com aquela outra palavra com terminação idêntica. Em inglês (garlic), encontrei. Li histórias de companheiros que também enfrentam os mesmos reveses para não abdicar de suas iguarias regadas a alho. E descobri que existe um restaurante em São Francisco, nos Estados Unidos, que é uma espécie de meca para amantes do alho no mundo inteiro. Chama-se The Stinking Rose. Talvez o nome soe poético em inglês, mas a tradução literal é "A Rosa Fedorenta". Você comeria num restaurante com esse nome? O lema do estabelecimento é: "Temperamos alho com comida."

Há quem diga, não sem uma pontinha de sarcasmo, que é a minha predileção por alho que me faz estar no momento, digamos, disponível. Ora, não haveria de ser por isso. Até porque, é bom que se diga, tenho procurado disciplinar bem os horários e as quantidades para o consumo. Às vezes fico um mês ou mais sem comer alho. Não é algo que faça parte da minha dieta (?) regular. Aqueles episódios de ingestão de alho cru realmente aconteceram, mas aprendi a lição. Mesmo assim, pode haver recaídas. Ah, pode. Abro a geladeira e vejo aqueles dentinhos ali, sorrindo pra mim. O pote de patê de fígado ao lado. As bolachinhas tipo "club" no armário. E agora? Resisto ou não resisto? Vou me encontrar com alguém amanhã? Terei algum compromisso importante? Por que comer, por que não comer, por que comer, por que não comer... Às vezes a tentação é maior. Mas o arrependimento no dia seguinte é quase como o de uma ressaca.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi, Emilio!
O alho ainda tem outra vantagem: espanta vampiros!!! :))))
Agora falando sério: adorei o blog! O template é lindo! O conteúdo ainda li muito pouco (estou no trabalho), mas já gostei também!
Beijo,
Danny Reis.

9:36 AM  
Anonymous Anônimo said...

Salve Emílio:

Brócolis ao alho e óleo é simplemente perfeito ... e eu tive sorte: minha mulher também adora, o que resolve o problema do, digamos, hálito. Que sua próxima cara-metade também curta, é o que te desejo.
Valeu
Alexandre

2:07 PM  
Anonymous Anônimo said...

Emílio!
Estou dando risadas sozinha. Vão pensar que enlouqueci. Adorei o "sorriso dos dentinhos"...
Não sabia que já tinhas comido uma cabeça de alho inteira. Eu, quando criança, amassava alho com sal e comia...muito também! Mas, eu era criança! Não havia problemas... Vamos te convidar para comer brócolis com alho, que a Simone (do Caco) faz. É uma delícia! Ah! teu comentário sobre os corações na porta estão fazendo sucesso... Um beijo, Neca (tua irmã preferida! ai,ai,ai)

9:18 PM  

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