terça-feira, outubro 19, 2004

Andando de ônibus

Na minha infância os cobradores de ônibus tinham a mania de ficar gritando: "Um passinho à frente, por favor! Um passinho à frente que lá no fundo tá folgado!" E eu tinha que achar graça, pois olhava aquelas pessoas amontoadas feito sardinhas em lata e não via espaço nenhum para onde pudessem se mexer.

Faz tempo que não ouço os cobradores gritando essas instruções. Devem ter sido orientados para serem mais discretos, por uma questão de bom atendimento. Mas às vezes acho que o berro do "passinho à frente" faz falta. Quem vai de pé dentro de um ônibus deveria se comportar como se estivesse em uma fila, sempre caminhando e ocupando os espaços em direção à porta de saída. Em vez disso, muitos se fixam no "seu" lugar, como se estivessem num show e tivessem encontrado uma boa visão para o palco. E parecem ter uma preferência toda especial por se aglomerarem logo após a roleta (ou "catraca", pra quem não é gaúcho), deixando espaços vazios ao fundo. Nessa hora nada me resta senão fazer da expressão "com licença" um eufemismo para "danem-se, pois vou passar de qualquer jeito!" Mas Deus, como sempre, é sábio. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas as barrigas têm uma certa flexibilidade. Nem que seja para espremer dois ou três ao mesmo tempo na passagem.

Outra situação chata é quando estou sentado ao lado da janela e tenho que pedir licença ao passageiro do meu lado para sair. Alguns se levantam, mas outros apenas viram os joelhos para o corredor. Estes geralmente levam uma "traseirada" no rosto, mas não é problema meu. Por fim, aprendi que a campainha para descer não é suficiente. Você tem que acioná-la e posicionar-se diante da porta de saída. Só um procedimento ou outro não sensibiliza o motorista. Já vi uma senhora não conseguir descer na parada desejada porque esperou o ônibus parar para se levantar. Ele simplesmente não parou.