domingo, dezembro 12, 2004

A inexorável passagem dos anos

Todos nós, na infância e adolescência, temos um ou mais momentos de querer crescer. Lembro de um priminho meu para quem os pais disseram que, aos cinco anos, já seria um homenzinho. No dia do aniversário, acordou reclamando que não havia mudado nada, estava igual ao dia anterior. Aos dez anos começa a ansiedade por ser adolescente. Na adolescência, sonhamos com a maioridade para poder dirigir e freqüentar a noite. O começo da adolescência, para os meninos, é um tanto frustrante, pois as meninas da mesma idade costumam se interessar por homens mais velhos. Tudo conspira para que queiramos crescer o mais depressa possível.

Infelizmente, idade não é como o peso, sobre o qual até podemos ter algum controle. Estou muito gordo, vou tentar baixar uns quilinhos. Ou então: agora cheguei no meu peso ideal. Até podemos achar que chegamos na idade ideal, mas não temos a chance de dizer: agora pára, está bom assim. Não preciso envelhecer mais, cheguei onde queria. Chega! Tá bom assim! Pára! Mas o calendário segue seu rumo de forma impiedosa. E a soma dos anos continua mesmo quando gostaríamos que ela travasse.

Nessa hora, lembramos da ansiedade que sentíamos por crescer na infância e nos sentimos culpados. E se não tivéssemos desejado envelhecer? Se nos déssemos por satisfeitos com nossa pouca idade e, pelo contrário, tentássemos de alguma forma segurar o tempo com o pensamento? Quem sabe os anos não passariam tão depressa hoje? Em vez disso, é como se nossa pressa de amadurecer tivesse impulsionado a roda dos anos e agora não conseguimos mais conter sua aceleração. A culpa é toda nossa. Quisemos isso na infância e agora não podemos voltar atrás.

Se eu pudesse ter a mesma idade para sempre, acho que pararia em 39. Não quereria voltar aos 20 e poucos, em primeiro lugar, porque nessa idade eu aparentava um adolescente. Homem não gosta de parecer muito novo antes dos 30. Em segundo lugar, agora me acostumei a gostar de mulheres mais velhas e não me interessaria mais por guriazinhas. Mas também não quereria ter 40, pelo efeito psicológico. É como preço de mercadoria: "apenas 39,90". Eu seria um homem maduro com menos de 40 anos. Poderia até inventar uma nova letra para aquela música da Violeta Parra: "volver a los treinta y nueve..."

Quando vejo aquela moçada que se reúne à noite na frente do Hotel Riograndense em Capão da Canoa, várias perguntas surgem na minha cabeça. Por que os quarentões também não podem? Eu não iria tentar me misturar aos jovens, pois já tenho sobrinhos suficientes para me chamar de tio. Mas onde está a turma da minha faixa etária? Os casados estão em casa cuidando da mulher e dos filhos. Os descasados até freqüentam "clubes de coroas" e similares, mas deveriam ter também um "point" ao ar livre, como existe para a garotada. Aí os quarentões iriam chegando aos poucos com suas barrigas, carecas e melenas grisalhas, jogando conversa fora, até que um deles perguntaria: "Onde é a festa, hoje?" Depois iriam para um barzinho tomar uns chopes e encerrariam a noite na balada. Mas não para dançar hip-hop, por favor! Até a "eterna juventude" tem seu limite! Respeitem meus cabelos brancos!

Tudo isso me ocorreu porque hoje, domingo, 12 de dezembro, estou completando 44 anos. Estou velho. Ah, que saudade dos meus 39!