terça-feira, abril 19, 2005

Os 75 segundos

Quando eu era colorado fanático, torcia até o último segundo de jogo. Até me irritava saber que alguns torcedores saíam do estádio antes do apito final. Se o adversário fizesse 3 ou 4 a zero, não lembro com quantos minutos de jogo eu perdia a esperança. Acho que aos 40 do segundo tempo. Não, aos 41. Aos 40 eu ainda torcia para que saísse o primeiro de uma série de quatro ou cinco gols relâmpago. Estranhamente, nunca chegou a acontecer.

Lembro também de um jogo contra o Cruzeiro no Mineirão em que o Inter venceu. (Quando eu disser que lembro de algum jogo, vocês já sabem que deve ter sido no começo dos anos 70, por ali. Depois que descobri David Bowie e Pink Floyd, nunca mais guardei sequer a escalação do Internacional.) O juiz apitou o final antes que o Cruzeiro pudesse cobrar um escanteio. A torcida, é claro, ficou furiosa. Porque aquele escanteio, é evidente, mudaria o destino da partida. Ali sairia o gol de empate que livraria o Cruzeiro da humilhação de perder em casa. Essa certeza os mineiros tinham e, portanto, o time só perdeu por culpa do juiz. Porque nos últimos segundos com certeza o Cruzeiro faria o que não fez em 90 minutos.

Agora imaginem como se sente a torcida do 15 de Novembro com o fato de Carlos Simon ter encerrado a prorrogação da final contra o Inter um minuto e 15 segundos antes do previsto. Ele já deu a desculpa de que cronometrou os 30 minutos de forma ininterrupta, sem descontar o tempo de troca de lado. E para quem está de fora talvez fique aquela idéia contemporizadora: ah, eles não teriam conseguido fazer mais nada, mesmo. Será?

Aí lembro da minha infância sonhando com gols relâmpago e viradas históricas que nunca aconteceram. Se eu achava possível que o Inter fizesse quatro gols em cinco minutos, que dificuldade teria o 15, com o apoio de sua torcida, em fazer um, só mais um gol em 75 segundos? Podia acontecer, não podia? Mas também pode ser que não. Nunca se saberá. Mas, para a torcida do 15, os 75 segundos que lhe foram roubados ficarão para sempre na memória. Junto com a certeza de que ali teria acontecido o empate que lhes daria o título.