domingo, abril 17, 2005

Reflexões de um ex-fanático

Então o Internacional é tetracampeão gaúcho. Eu sou colorado, mas não consigo vibrar como nos velhos tempos. Meu fanatismo ficou lá nos anos 70. Talvez vocês pensem que era porque o time estava vivendo a melhor época de sua história. Não, isso foi apenas uma feliz coincidência. O que realmente me motivou a gostar de futebol foi a Copa 70. Aliás, o time do meu coração era o daquele ano, ainda antes da entrada de Figueroa e Falcão. Lembro até hoje da escalação: Gainete, Édson Madureira, Pontes, Valmir e Jorge Andrade; Carbone e Tovar; Valdomiro, Claudiomiro, Sérgio e Dorinho. A partir de então, passei a acompanhar todos os jogos do Inter. E tive muita sorte: tudo aconteceu como eu queria. O colorado foi campeão gaúcho oito vezes seguidas e superou a marca do Grêmio, que era o hepta. Como se não bastasse, venceu também dois Campeonatos Brasileiros, em 75 e 76. Venceria mais um em 79. Essas vitórias, especialmente as do Gauchão, me livraram de um trauma de infância. Se o Grêmio tivesse interrompido a série do Inter, digamos, em 1973, eu teria ficado arrasado, literalmente inconsolável. Não sei como eu teria lidado com aquilo.

Em 1975, quando o Inter venceu seu primeiro Campeonato Brasileiro, minha paixão pelo clube já não era a mesma. Eu ainda tinha entusiasmo o suficiente para comemorar, mas meu interesse maior já era outro: música. Tanto que, na época do tri, em 1979, lembro que eu estava mais preocupado com o Festival da Tupi, pela televisão, do que com o Brasileirão. Mas o Inter venceu. Depois, tive uma grande decepção com a perda da Libertadores, em 1980. Ali sepultei meu fanatismo por futebol. Lembro de um domingo à noite, no começo dos anos 90, em que fui ao Barranco com minha (hoje ex) esposa. Não me dei conta de que, naquela tarde, o Inter tinha sido campeão gaúcho. E, como se sabe, tanto o Inter quanto o Grêmio comemoram seus títulos no Barranco. Para complicar, quando chegamos lá, minha sobrinha me avistou e me convidou para sentar na mesa onde estava o meu irmão e sua família, no meio dos torcedores. O que era para ter sido uma noite tranqüila acabou sendo, para mim, uma irritante zoeira. Cada vez que chegava algum jogador ou dirigente, o pessoal da mesa se esgoelava como se não houvesse amanhã. E isso que era apenas um Campeonato Gaúcho. Não consegui me enturmar. O meu desconforto era visível, a ponto de um dos integrantes da mesa me chamar de "gremista".

Eu sabia que hoje era a final do Gauchão. Até queria ouvir, mas estava caminhando com o meu filho. Cheguei em casa a tempo de ver pela TV a prorrogação. Podem me chamar de traidor, mas em alguns momentos me peguei torcendo pelo 15 de Novembro. Solidarizei-me com aquela torcida de Campo Bom, aquelas crianças beijando a camiseta do 15 com alegria, aquele pequeno time que não só conseguiu trazer a final para o seu estádio mas ganhou de 2 a 0 no tempo normal. Como se não bastasse, na prorrogação, levou um gol e não se intimidou: foi lá e empatou com um tento belíssimo. Mas o Inter conseguiu marcar mais um e sagrou-se campeão. Só não entendi por que o juiz Carlos Simon encerrou a partida um minuto e 15 segundos antes do tempo regulamentar. Para quem estava lá, na torcida, deve ter sido frustrante. E se a imprensa for isenta, haverá de cobrar dele uma explicação.

Definitivamente, o futebol já não me entusiasma. Meu time é tetracampeão gaúcho, o arqui-rival ficou em terceiro no campeonato e está na segunda divisão do Campeonato Brasileiro, mas eu não consigo me alegrar. Pior: ainda fico com pena da torcida do 15 de Novembro. Continuo colorado, mas quero a minha parte da festa em dinheiro.