quinta-feira, junho 23, 2005

Promessas terceirizadas

Uma situação bastante incômoda que às vezes nos acontece é quando alguém se compromete por outra pessoa. Caso típico é quando você liga para reclamar de um serviço ou conserto que deu problema. O sócio da empresa responde:

- Não se preocupe, senhor, hoje à tarde o Fulano vai aí verificar. Antes das cinco ele está aí.

E você fica tranqüilo com a resposta. Só que tem um problema: o Fulano ainda não foi avisado. Quando ele chega na firma, o sócio lhe avisa:

- Fulano, você tem que ir na casa do Seu Beltrano hoje à tarde pra revisar o serviço, que está com defeito.

E o Fulano, indignado, rebate:

- Ah, não posso! Tenho um monte de volta pra dar e tenho que entregar isso aqui tudo lá na firma do Cicrano.
- Não, você tem que ir. Prometi que você estaria lá e ele vai estar esperando.
- Impossível. Hoje, nem pensar!

O curioso é que raramente o Fulano se lembra de apresentar o argumento óbvio: o sócio não deveria ter-se comprometido sem falar com ele primeiro. Na cabeça dele, esse detalhe é irrelevante. O que importa é que ele não pode ir e não vai, fim de papo. E você é que paga o pato. Pior é quando a situação vira queda-de-braço.

- Falei com seu sócio e ele disse que não vai poder vir hoje.
- Não, ele vai sim, não tem essa de não poder!
- Pois é, mas ele disse que não pode. O senhor não tem outra pessoa pra mandar?
- Não, ele vai! Pode deixar que ele vai, eu garanto.

Aí você já sabe que o sujeito ou não vem, ou vem de má vontade. De um jeito ou de outro, você se sente prejudicado.

Outro caso é quando chega algo que você estava esperando. Um livro, por exemplo. Aí alguém lhe telefona da livraria avisando:

- Vou deixar seu livro aqui com a Beltrana. O senhor procura por ela.

Aí você chega lá e procura a Beltrana.

- Eu sou o Cicrano e vim buscar o meu livro.
- Qual livro, senhor?
- "Tratado Geral dos Chatos", de Guilherme de Figueiredo.
- Olha, não me deixaram nada. Com quem o senhor falou?
- Não peguei o nome. Ela disse pra falar com você.
- Não estou sabendo. Ninguém me avisou nada.

E aí você fica no meio, de bobinho, naquela situação chata de um dizer que deixou e o outro afirmar que não recebeu. Pelo correio ou por e-mail é ainda mais desagradável:

- Ainda não recebi minha encomenda. Vocês mandaram?
- Sim, faz mais de um mês.
- Pois é, mas o correio disse que não recebeu nada.
- Mas nós mandamos.

Por essas e por outras é que o ideal é lidar diretamente com a parte que irá executar o serviço ou entregar a mercadoria. Onde entra um terceiro desavisado, sempre aumenta o risco de falha.