sexta-feira, agosto 26, 2005

Preto-e-branco já!

Está saindo em DVD no Brasil a primeira temporada da série “A Feiticeira”. Ótimo. Só que tem um detalhe. Nos Estados Unidos foram lançadas duas caixas: uma em preto-e-branco, como eram originalmente os capítulos, e outra em versão colorizada. Aqui no Brasil não teremos opção: alguém decidiu por nós que ninguém iria se interessar pela série em preto-e-branco e, com isso, só a colorizada está sendo lançada. E o pior é que, do ponto de vista mercadológico, até foi uma decisão acertada.

Infelizmente, vigora uma mentalidade burra de que tudo o que é a cores é melhor do que o preto-e-branco. A qualidade da produção, o valor histórico, o pioneirismo, nada disso interessa. Se é em preto-e-branco, já leva desvantagem. Existe um filme sensacional, um clássico, chamado “O Pai da Noiva”. Foi produzido em 1951, com direção do grande Vincent Minelli e a jovem Elizabeth Taylor no papel da noiva. Só que quase ninguém se interessa em conhecer essa obra-prima porque em 1991, criminosamente, foi feito um remake com o exagerado Steve Martin no papel do pai da noiva. E como é mais recente e é a cores, todos preferem ver esse. Ora, o original tinha um humor sutil e verossímil, captando com perfeição os sentimentos ambíguos de um pai cuja filha está prestes a casar. Spencer Tracy foi indicado para o Oscar por sua interpretação do pai. Já o filme de Steve Martin é uma palhaçada braba, estraga todo o potencial do roteiro. Mas é esse que as pessoas querem ver porque é mais atual e porque é a cores.

Hoje vejo a caixa de DVDs com a primeira temporada de “Perdidos no Espaço”, que me custou 200 reais, sendo vendida por menos de 100. Por quê? Porque é em preto-e-branco, ora! Por que mais seria? Então você não sabe que tudo o que é em preto-e-branco é ruim? Felizmente nunca refizeram ou colorizaram “Cidadão Kane”. “Casablanca” até teve um relançamento a cores, mas em DVD foi preservado em seu glorioso preto-e-branco. No caso de “A Feiticeira”, alguns podem achar que é só tirar a cor do televisor. Mas não é. O processo de colorização altera os tons. Fica aqui o meu protesto. Quero “A Feiticeira” em preto-e-branco, tal como foi filmado. E quem só viu “O Pai da Noiva” na versão pastelão do Steve Martin fica multado em conhecer o original.

3 Comments:

Blogger jader_cm said...

Lembrei de um excelente filme que usa o preto-e-branco propositalmente e muito bem: Touro Indomável (Raging Bull) com DeNiro e Joe Pesci. Direção do gênio Martin Scorsese. O mais interessante é que existe uma, e somente uma, cena colorida no filme: quando o personagem de DeNiro assiste a filmagens antigas de sua "ex-família feliz".

Recomendo demais!

2:54 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Este é o problema (se é que posso chamar assim) dos filmes em preto-e-branco feitos na era moderna do cinema a cores: eles "furam o esquema" usando um ou outro recurso a cores. É o caso de "A Lista de Schindler", que usa cor para salientar uma menina em uma cena bem emocionante. Já o "Manhattan", do Woody Allen, acho que é todo em preto-e-branco, mesmo, à moda antiga. "Lenny" também.

6:00 PM  
Blogger jader_cm said...

Eu lembrei da Lista de Schindler antes de comentar, mas acho meio diferente... a cena colorida foi muito marcante no filme. Em Raging Bull é diferente: a cena quase passa despercebida. Na verdade às vezes passa. Tenho um amigo que assitiu o filme e gostou muito. Mas nem se deu conta que a cena da filmagem era colorida.

Mas entendi o seu ponto de vista. E, de certa forma, estou de acordo.

P.S.: sou um completo ignorante em Woody Allen! Quando der assistirei. "Vicky Cristina Barcelona" já está na fila a tanto tempo!

7:04 PM  

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