sexta-feira, setembro 16, 2005

Sobre o falso Verissimo

Admito que peguei pesado no comentário abaixo. Quando o assunto é os textos falsos, minha paciência se esgota muito rapidamente. No caso, descobri essas mensagens depois que alguém no Orkut disse que seu texto preferido de Luis Fernando Verissimo era "Sonhar é melhor que nada". Pelo título, imaginei que fosse um "falsíssimo". Fiz uma busca e descobri o texto num blog. Lembrei que já o conhecia. Como eu suspeitava, não era do Verissimo. Ao abrir a janela do servidor de comentários para esclarecer a confusão, fiquei indignado com o que li.

Lá no Orkut, na comunidade de Luis Fernando Verissimo criada por Elson Barbosa, existem pelo menos uns cinco integrantes numa cruzada para acabar com essa imagem errada que se criou do escritor na Internet. Mas às vezes a gente desanima. Mesmo depois que o próprio Verissimo divulgou em sua coluna que a verdadeira autora do "Quase" é a estudante de Medicina Sarah Westphal, de Florianópolis, volta e meia ainda aparece alguém para postar esse texto. E acompanhado de comentários do tipo "esse é profundo", "nesse ele se superou", "só ele para escrever algo assim", o que dá nos nervos de qualquer um que realmente conheça o estilo dele.

De certa forma, eu já disse tudo o que tinha para dizer sobre esse assunto em meu texto "O Verissimo da Internet". Especialmente nestas duas frases: "O falso Verissimo ganhou identidade própria. As pessoas se dizem fãs dele com base nos textos errados." Isso ocorre, entre outras coisas, porque textos repassados por e-mail têm muito mais circulação do que os impressos em livros. E é raro, muito raro, alguém pacientemente copiar algo impresso. Mas é muito fácil encaminhar o que se recebe. A maioria desses textos apócrifos já nasce na própria Internet, por isso eles se disseminam com tanta facilidade.

Não que sirva de consolo, mas Verissimo não está sozinho. Não agüento mais ler elogios rasgados a Mario Quintana por aquele poema das borboletas, que não é dele. No Dia do Amigo, milhares de internautas em todo o Brasil mandam para seus amigos um texto do cronista gaúcho Paulo Sant’ana que começa com a frase "tenho amigos que nem sabem o quanto são meus amigos" com assinatura de Vinicius de Moraes. Já Martha Medeiros tem seus textos colhidos, adulterados e reenviados com assinaturas alheias, entre elas a do próprio Quintana.

O que fazer? A gente corrige, corrige, corrige, mas não adianta. Pelo contrário, alguns chegam a se irritar e reagem com indignação quando são alertados. Você passa por chato por querer elucidar o assunto. Algumas pessoas preferem continuar iludidas. Em outra comunidade de Verissimo no Orkut, o "Quase" aparecia na própria descrição. E quando a moderadora disse que iria retirá-lo por ter descoberto que não era dele, um dos integrantes suplicou: "Não tire, porque eu só entrei aqui por causa desse texto. Se você tirá-lo, eu saio."

Então chega uma hora em que a gente perde a linha e parte para o deboche, mesmo. Pode haver mico maior do que um bando de desinformados se derramando em elogios com aparente conhecimento de causa a um texto apócrifo? Dizendo que "é a cara dele" e "só ele para escrever algo assim", quando os verdadeiros admiradores do escritor sabem que nem ao menos o estilo é o mesmo? Sim, eu fui antipático. Reconheço. Mas da próxima vez em que o "Sonhar é melhor que nada" aparecer, vocês vão lembrar "daquele chato do blog" e não esquecerão de que não é do Verissimo. Aliás, textos com a assinatura de Verissimo que se recebem por e-mail ou aparecem em blogs nunca são dele. Um dos integrantes da comunidade do Orkut chega a pedir que os conhecedores do autêntico Verissimo não enviem nenhum texto verdadeiro, para que a regra não seja quebrada. Parece um contra-senso, mas se ajudar a separar o joio do trigo, talvez valha a pena.