segunda-feira, outubro 24, 2005

Questão de entendimento

Eu juro que já estava pensando em escrever sobre isto muito antes de ler a crônica do Luis Fernando Verissimo que saiu hoje. Depois que li, pensei: BINGO! Confirmou minha tese.

Eu votei "não" no referendo do desarmamento, mas consigo imaginar como a turma do "sim" está se sentindo. Não é fácil ser voto vencido. Eu já fui algumas vezes e já tive oportunidade de observar a reação de outras pessoas que também tiveram seus votos superados. Por uma questão de lógica, vota-se naquilo em que se acredita. Logo, quando se vê a maioria indo em sentido contrário, a tendência é pensar: não entenderam. Não souberam enxergar a realidade. Estão iludidos. As tentativas de esclarecimento foram infelizes.

Aliás, "não entenderam" é um mecanismo de defesa muito utilizado também em outras situações. Quando um filme é mal recebido pela crítica, o diretor invariavelmente conclui: não entenderam. Se algum leitor escreve para o jornal discordando de alguma coluna ou comentário, o autor pensa: ele não entendeu. Se você faz uma proposta numa reunião e ela não é aceita, é óbvio que não a entenderam. O ser humano é assim. Usa sua visão do mundo como parâmetro para avaliar a capacidade de compreensão dos outros.

Claro, há situações em que o mal-entendido de fato acontece. Separemos o joio do trigo. Aquela vez em que divulguei a agenda da banda Sunset Riders e fiz uma brincadeira com as festas fechadas, reservo-me o direito de achar que a fã do grupo que escreveu para me esculachar realmente não entendeu a minha intenção (pra quem não leu, é só clicar
aqui). Outros podem pensar que não, que eu estou apenas usando isso como pretexto para não admitir que me expressei mal. De qualquer forma, estou citando esse episódio apenas como exemplo de que há casos de pessoas que "não entenderam" mesmo.

A turma do voto vencido bufa, balança a cabeça em desaprovação, resmunga, e por fim desabafa: não entenderam. Mas afinal, quem tem a verdade absoluta? Quem votou "sim" parte do princípio que, com menos armas, haverá menos mortes. Simples assim. Já quem votou "não" teme pela segurança de uma população "oficialmente" desarmada e quer assegurar o direito de cada indivíduo de ter uma arma para sua defesa, se assim o desejar. São visões antagônicas, ambas com sua lógica e coerência. Nenhuma delas está errada a meu ver. Mas, no meu julgamento, a segunda é mais justa e realista.

Se você votou "sim", já sei o que deve estar pensando do que eu escrevi: que eu não entendi. Mas se você pensa isso, sinto muito: você não entendeu.


P.S.: Acho que faltou explicar o que o Verissimo tem a ver com isso. Afinal, nem todos lêem a coluna dele. Na crônica de hoje, ele dá a entender que venceu o "não" porque a população não foi corretamente esclarecida. Ou seja: não entenderam.