segunda-feira, novembro 21, 2005

O recesso da Rosana

A jornalista Rosana Hermann, talvez a blogueira mais assídua da Internet, anunciou um recesso de dez dias do mundo virtual. “Sem blog, sem shout, sem comentários, sem emails, sem MSN.” Não só isso, como retirou todas as mensagens e links para os arquivos de seu blog. Ela afirma que foi uma decisão visceral e não racional e garante que vai tudo bem com a saúde, família e trabalho. “É alguma coisa, algum revés específico do mundo online que eu preciso olhar de longe, pra buscar um horizonte.”

Sei que a Rosana é bem conhecida e tem programa na TV, mas eu nunca tinha ouvido falar nela antes do blog. E a forma como o descobri foi bem curiosa: através de um texto dela, “Vaidade”, falsamente atribuído a Herbert Vianna. Algo me dizia que não poderia ser do Herbert e, quando soube a verdadeira fonte, decidi conferir. Gostei do estilo da Rosana e também fiquei impressionado com a dinâmica do blog, carinhosamente intitulado “Querido Leitor”. As postagens se sucediam praticamente de hora em hora, nem que fosse para dizer “fui correr e já volto” ou para enviar uma foto de um engarrafamento em São Paulo via celular. Certa vez coloquei uma mensagem no blog dizendo que ela devia ser a mulher biônica, com uma câmera nos olhos e antenas de transmissão “wireless” nas orelhas. A Internet parecia ser uma parte essencial da vida dela. De repente, este recesso inesperado.

Sempre que alguém me acusa de ser “viciado em Internet”, rebato com o argumento de que a maioria dos brasileiros passa as noites em frente à TV e isso ninguém critica. A televisão já é um vício institucionalizado. É normal gastar horas a fio assistindo passivamente à programação da Globo. Já ficar na Internet é uma atitude condenada. Mesmo assim, às vezes eu me pergunto se não estou exagerando. Não nego que adoro a Internet. Aqui consigo entrar em contato com pessoas do mundo inteiro que pensam como eu penso e gostam do que eu gosto. A única barreira, que seria a do idioma, eu já cheguei preparado para superar, com meu conhecimento de inglês. E sempre gostei de escrever. Então como resistir à tentação dos grupos de discussão, das comunidades do Orkut, das lojas virtuais, dos sites de referência, das enciclopédias on-line? A Internet é uma overdose de informações e opções. Fiz amizades por aqui e até namoradas conheci em sites de relacionamento (inclusive a atual).

Mas talvez seja o caso de pensar se não estou, sim, passando dos limites. Se fico muito tempo sem acessar, já começo a imaginar se alguém postou alguma mensagem nova nas minhas comunidades do Orkut. E e-mail, será que tem algum novo? Como andarão as discussões nos fóruns de música? Às vezes fico surpreso ao ver notórios fãs de determinados artistas – Beatles, David Bowie e outros – se desfazendo de suas coleções inteiras. Pessoas que antes caçavam avidamente CDs raros, piratas, importados e fora de catálogo de uma hora para outra se desvencilham do acervo de uma vida. Talvez seja por necessidade, mas não descartaria a hipótese de uma “renovação”. Percebem que a coleção se tornou uma obsessão, um peso morto e um fator de alienação, e decidem se libertar dela para tentar aproveitar outras coisas que a vida oferece.

Posso estar delirando, mas eu me pergunto se não foi isso que aconteceu com a Rosana. E percebo que talvez eu pudesse tentar uma experiência assim, de abstinência internética. Mas só faria se tivesse dinheiro para viajar. Aí, sim, ficaria dez viajando, me “desintoxicando” da rotina virtual e redescobrindo as maravilhas do mundo de verdade. Que saudade de caminhar na beira da praia! Ou até de outras coisas que eu fazia em casa mesmo, como ler, por exemplo. Lembro de uma vez em que meu equipamento de som estragou e eu passei a valorizar qualquer programa melhorzinho que passasse na TV. Pois talvez um tempo longe da Internet fizesse bem até para colocar a leitura em dia.

Mas depois viria correndo comentar os livros aqui no blog!