quarta-feira, dezembro 28, 2005

E a novela continua

Encontrei mais dois apócrifos no site "Nosso São Paulo": "Felicidade Realista" como sendo de Mario Quintana (a autora correta é Martha Medeiros) e "Amigos" com autoria atribuída a Vinicius de Moraes (é do cronista gaúcho Paulo Sant’ana, que publicou o texto originalmente na Zero Hora). O site já foi avisado e inclusive enviei links e anexos para – espero – provar o erro de forma satisfatória.

Talvez vocês se perguntem por que insisto com esse site quando há tantos outros, centenas, espalhando essas mesmas assinaturas falsas. A diferença é que a maioria dos textos falsos se encontram em blogs, fotologs e páginas particulares que não têm a pretensão de serem fontes confiáveis de informação ou literatura. Já o "Nosso São Paulo" é um projeto criado pela Álamo Tecnologia, de Araraquara, com o objetivo de "proporcionar acesso fácil aos dados do estado de São Paulo e de sua CIDADE, com uma navegação agradável e rápida, tanto quanto possível, sem exceder no uso de recursos tecnológicos avançados, NÃO utilizando mecanismos de controle INTRUSIVOS, bem como permitindo que pequenos patrocinadores tenham acesso ao projeto e melhorem sensivelmente a visibilidade de seu negócio, através de uma política de preços coerente". Um site assim transmite credibilidade. E, por sua finalidade, não precisaria hospedar crônicas ou poemas. Mas já que optou por fazê-lo, deve ter mais cuidado ao verificar fontes e autorias. Já é difícil convencer os desavisados que o fato de terem encontrado um texto "num site sobre Quintana" (que pode ser apenas um blog) não valida a autoria. Agora imaginem num portal sério e organizado como esse.

Justiça se faça ao fato de eles terem dado o "benefício da dúvida" à minha informação sobre a Professora Renata Villela. Ao texto "Deficiências", acrescentaram a seguinte observação:

ERRATA: recebemos uma solicitação alegando que a real autora deste texto é a Professora Renata Villela. Infelizmente, não temos provas suficientes de tal alegação, nem mesmo o posicionamento da referida, portanto, solicitamos aos amigos deste portal que nos ajudem a consegui-las, pois neste projeto estaremos sempre buscando prestigiar os verdadeiros gênios do pensamento, sejam famosos ou ilustres desconhecidos, respeitando a autoria original.

Sou obrigado a concordar com eles que, realmente, não há provas da verdadeira autoria. O fato de o trecho citado fazer parte de um texto maior no
site da Escola Flor Amarela, por si só, não provaria nada. Nem o e-mail que a professora Renata me enviou. Mas acho que a desconfiança deles, pelo menos como demonstrada ontem, tem mais a ver com desconhecimento do estilo de Quintana e crença de que a autoria seja realmente dele. Eu já parti da premissa que ele não era o autor. Logo, se encontrei o texto em um site como o da Escola, entrei em contato e recebi um e-mail da Professora Renata confirmando que a autora era ela, não vi razões para duvidar. Se fosse um engodo, seria ao mesmo tempo muito bem feito e totalmente sem razão. Eu acredito na Professora. Se trabalhasse em algum jornal, divulgaria a informação sem medo, por minha conta e risco.

Não vai muito longe: a própria autora do "
Quase", Sarah Westphal Batista da Silva, até hoje não apresentou provas documentais de que o texto é realmente dela. Quando ela apareceu no Orkut, na comunidade de Luis Fernando Verissimo, com um tópico intitulado "Eu escrevi o Quase", muita gente não acreditou. Mas já se sabia, pelo estilo, que o texto não era do Verissimo. Eu examinei o perfil dela, li suas mensagens e concluí que ela deveria estar falando a verdade. Tempos depois o próprio Verissimo, em sua coluna, contou que recebeu em Paris uma coletânea de autores brasileiros traduzidos para o francês e o "Quase" acabou entrando com a assinatura dele. Foi a deixa para que Sarah o procurasse e, na coluna seguinte, ele próprio divulgou o nome dela. Depois disso ela foi notícia na imprensa gaúcha e catarinense, mas em momento algum apareceu "prova". Por outro lado, também não surgiu ninguém para contestar a afirmação.

Infelizmente a noção de que blogs e e-mails não são fontes confiáveis para literatura ainda não foi devidamente captada. Há pessoas que descobrem que tal texto não era de quem elas pensavam, mas acham que foi um caso isolado que "por azar" caiu na sua caixa postal e que os demais estão todos corretos. Tem gente que não entende e acha exagerado o postulado de que "nenhum texto recebido por e-mail é realmente de Luis Fernando Verissimo". Mas é o que se constata na prática. E existe até um pacto entre os conhecedores da verdadeira obra do escritor de não quebrar a regra, para facilitar o combate aos chamados "Falsíssimos".

P.S.: Acabo de verificar que o site corrigiu mais esses dois erros apontados. Obrigado.


(Divirta-se clicando nos vários links do texto acima.)