sábado, agosto 26, 2006

Livros e carros

Recentemente um amigo meu me ofereceu um livro para vender. Ele sabia que eu estava interessado e fez um bom preço. Mesmo assim, perguntei:

- A lombada está quebrada?

Resposta:

- O que é lombada?

Expliquei-lhe e ele respondeu que havia, sim, uma dobra, mas que o livro era grosso, não tinha como ler sem dobrar, blá, blá, blá... Eu só falei:

- Tudo bem, mas eu consigo ler um livro grosso sem estragar.

Ele se ofereceu para levar o livro para que eu desse uma olhada. Acabei comprando, mas cá entre nós: não estava muito bem conservado, não. Além da lombada quebrada, a capa plastificada tinha sinais visíveis de desgaste, além de a borda estar amarelada. A vantagem de receber um livro já envelhecido é que eu o lerei sem me preocupar e pegá-lo com cuidado e manuseá-lo com jeito. Mas prefiro comprar livro novo. E fico possesso quando o vendedor o pega para preencher a nota em cima!

Por outro lado, meu carro está em péssimo estado. Eu já sei que, por mais que eu cuide dele, vai virar sucata um dia, então pra que me preocupar? Um dia, estacionei-o em um shopping. Ao abrir a porta, sem querer encostei-a no carro do lado, que estava novinho (não me perguntem a marca). Pronto, foi o suficiente para que o casal que estava lá dentro saísse bem atônito e apavorado, como se tivesse acontecido uma tragédia! O rapaz veio falar comigo:

- Puxa, o senhor amassou o meu carro!

Tentando manter a calma, perguntei:

- Amassou onde?

O estrago foi tão grande que ele teve que pedir que eu abrisse a porta de novo, para ver onde tinha encostado. Aos meus olhos, o máximo que consegui ver foi o deslocamento de uma fina camada de poeira. Nada mais. Ele acabou se resignando:

- Deixa assim.

Só o imagino depois, indignado, tentando mostrar para os amigos onde o carro "amassou". E eles tentando achar, procurando meticulosamente, como quem examina uma lâmina de microscópio. Depois de muito procurar, cuidando para não passar o dedo com muita força, um deles diria:

- É, parece que aqui tem um arranhãozinho mesmo. Bem aqui. Aqui, ó! Não, não aí! Aqui! Aqui, nesse ponto, não tá vendo? Olha desse ângulo! Olha bem! Aqui! Viu agora? Passa o dedo bem devagarinho. Não, não aí. Aqui! Aqui, bem aqui! Sentiu? Mas que sujeito mais fdp fazer esse baita estrago no teu carro!

Por isso é que eu tenho um pacto com meus amigos: não peço o carro de ninguém emprestado, mas também não empresto meus livros. Eles podem voltar com um arranhãozinho na lombada.