quarta-feira, outubro 04, 2006

Lembranças de eleição

Em 1976, no governo Ernesto Geisel, foi promulgada a Lei 6.339, que impunha restrições à propaganda eleitoral. Os candidatos ficavam proibidos de falar ao vivo no horário gratuito. Apenas era permitida uma imagem 3x4 do rosto do candidato e um breve currículo. Ficou conhecida como Lei Falcão por ter sido criada pelo então Ministro da Justiça, Armando Falcão. Se há quem ache chato o horário político de hoje, imagine naquela época.

Mesmo assim, alguns usavam de criatividade para contornar as restrições legais. Em 1978, por exemplo, o empresário gaúcho Cláudio Strassburger, candidato a Deputado Estadual pela Arena, mudou o foco do marketing das sandálias que fabricava. Em vez de promover a marca Franciscano, passou a divulgar com mais força o nome Strassburger. E lançou o sugestivo slogan: "Strassburger, você sabe onde pisa". Mas não só isso: embora eu próprio não tenha visto, vários telespectadores afirmaram ter enxergado o número do candidato no cenário de um comercial da empresa, com a atriz Berta Loran. Além dessa estratégia publicitária, quem morava em Porto Alegre na época deve lembrar dos carros pintados que circulavam pelas ruas. Deu certo: Strassburger foi eleito.



Em 1982, foi a vez de Jair Soares, candidato a Governador do Rio Grande do Sul pelo PDS, valer-se de uma brecha para fugir da Lei Falcão. Encomendou um jingle de campanha disfarçado de música comum, que foi lançada em disco para venda normal nas lojas. "O Nosso Caminho Só Pode Ser Um", gravada pelo Impacto, era uma referência ao número do candidato, que inclusive imprimiu a frase em um de seus cartazes de campanha com destaque para o "1". Como se não bastasse, a letra incluía um de seus slogans, "quero a cidade mais humana e sem medo". Aí, rodava na televisão um comercial para "o novo disco do Impacto", tudo dentro da lei. Jair sempre teve prestígio no Rio Grande do Sul e sua vitória não foi surpresa, mas o lançamento do compacto simples foi uma jogada criativa.


A propósito, o disco que usei para ilustração foi comprado num sebo. O adesivo com autógrafo na contracapa sugere que Jair Soares deve ter distribuído o compacto a eleitores durante a campanha. Se bem que, na data que aparece, ele já estava eleito. Achei melhor preservar o nome citado na dedicatória.