quarta-feira, novembro 15, 2006

De volta às ruas

Meu recesso de nove meses sem dirigir não foi premeditado. Primeiro venceu minha carteira. Depois o IPVA. E eu, que moro (relativamente) perto do meu trabalho, fui empurrando os compromissos com a barriga. Como não sou exatamente fanático pela direção, não senti nenhuma urgência de providenciar a renovação da carteira. Além disso, eu queria fazer a prova, mas nunca me considerava preparado. Quando me dei conta, o carro havia sido abandonado pelo período de uma gestação. Eu já estava me preparando psicologicamente para gastar com bateria nova e revisão do motor.

Uma noite dessas, sonhei que peguei o carro e saí andando normalmente, sem qualquer problema. Já contei aqui que resolvi fazer um teste e tentar ligá-lo. Para minha surpresa, o motor acabou pegando. Eu já sabia que conseguiria pelo menos descer a rampa com ele. Minha idéia era mandar lavá-lo, trocar o óleo e o filtro. Depois disso, levá-lo para uma revisão. Mas, depois de pôr em prática a primeira etapa, fiz novo teste e o acionamento foi tranqüilo. Escutei bem o motor e não notei qualquer alteração. Tudo indicava que o carro estava pronto para ser usado novamente, sem precisar de bateria nova ou mecânico.

Hoje foi a prova de fogo. Levei minha namorada em casa. Eu moro no Menino Deus e ela, pouco antes de Alvorada. Fui e voltei sem problemas. O motor apagou algumas poucas vezes na sinaleira ("semáforo" para quem não é gaúcho), mas isso já acontecia antes. O tanque pode estar sujo. Eu lembro que mandei o carro para a revisão no ano passado e, pelo visto, os consertos ainda estão funcionando. Meu sonho se realizou.

Por que será que o carro continua funcionando bem depois de nove meses de inatividade? Fico tentado a apostar numa hipótese. Talvez essa crença de que a gente tem que ligar o carro de tempos em tempos não passe de um mito. Não é o carro que não pode ficar muito tempo desligado, é o dono que não consegue ficar muito tempo sem ouvir o motor do seu carro. É a famosa paixão do brasileiro por automóveis. Se por algum motivo não pode dirigir, o motorista ainda assim precisa ver o seu carro, tocá-lo, entrar dentro dele e girar a chave. Se o motor responder, é porque não o esqueceu. "Ele ainda me ama." Outra possibilidade é que algum empregado da garagem tenha tirado uma cópia da chave para ligar o carro de vez em quando sem eu saber. Sabe como é, não resistiu e decidiu evitar que o pobre Golzinho abandonado morresse por falta de cuidados.

Eu sempre digo que carro, para mim, não é uma paixão. Pois hoje descobri: ele é na verdade um grande amigo. Pode ficar meses longe de mim, mas quando acontece o reencontro, é como se o tempo não tivesse passado. Tudo volta a ser como antes. Talvez agora eu volte a freqüentar shows e assistir às apresentações da Sunset Riders, com quem estou em dívida.

Cuidem-se: estou de volta às ruas!