quarta-feira, novembro 29, 2006

Ganhar bem é pecado

Eu sei que o Brasil é um país de injustiças sociais, disparidades, gente passando fome, blá blá blá. Mas sempre achei exagerada essa gana da imprensa contra quem ganha bem. No Brasil, ganhar bem é um acinte, é politicamente incorreto, é pecado, é falta de pudor. Onde já se viu, com tanta miséria por aí, um brasileiro ter dois carros? Morar numa mansão? Ter empregados? Comer do bom e do melhor, viajar para o exterior, comprar computadores e equipamentos de som e vídeo? Se for simpatizante do PT, então, aí mesmo é que ninguém perdoa. Petista tem que fazer voto de pobreza!

A questão dos supersalários do judiciário até é diferente, pois envolve teto salarial definido pela Constituição. Mesmo assim, há brechas legais. Mas isso me faz recordar de outras vezes em que o assunto dos "marajás" foi abordado com o mesmo estardalhaço. Lembro de um militar que estava entrando na Justiça para, segundo suas próprias palavras, "manter seu padrãozinho de vida". Mas como o "padrãozinho" era de dar inveja a qualquer assalariado brasileiro médio, claro que a reação do público foi de indignação. Pouco importa que tenha sido conquistado honestamente, com trabalho, dentro das regras normais de ascensão. Repito: ganhar bem, no Brasil, é pecado.

Certa revista de circulação nacional adora implicar com os abastados. Há muitos anos, fez uma matéria sobre os "novos ricos", debochando de empresários honestos, os quais ainda posaram sorridentes para a fotografia, sem saber o enfoque que a reportagem iria dar. Em outra ocasião, ironizou quem faz uso de helicóptero em São Paulo. Também já dedicou meia página para expor uma bancária que ganhava uma remuneração razoável só para cuidar de uma pinacoteca. Os donos da revista devem ser paupérrimos!

Meus pais não ganhavam mal, mas milionários, nunca foram. Passaram dificuldades financeiras no começo do casamento. Cresceram por méritos próprios. Eu ralo para pagar minhas contas, mas não abro mão de meus livros, CDs e DVDs. Moro num apartamento pequeno alugado. Mas não tenho nada contra os ricos. Pelo contrário: admiro-os tanto que um dia hei de ser como eles. Vou viver num palacete que terá um home theater instalado numa sala de projeção. Além do DVD, terei também projetores de cinema e filmes. Em outra sala, haverá uma biblioteca. Terei dois ou três computadores de última geração. Além de máquinas fotográficas dos mais diversos tipos, digitais ou analógicas. Uma enorme sala só para o meu filho, com tudo de que ele gosta. Viajarei ao exterior no mínimo uma vez por ano. E quando esse dia chegar, não quero saber da imprensa vindo me expor como marajá, como novo rico, como sei lá o quê. Deixem-me comer o meu caviar em paz!