domingo, novembro 19, 2006

A magia do cinema

Fui ao cinema pela primeira vez na praia de Arroio do Sal. Minha mãe tinha explicado que era como uma televisão bem grande. Lembro bem que entramos e nos sentamos nas cadeiras de palha. Antes de a sessão começar, eu apontei para o banheiro e perguntei: "É ali?" Ora, a porta era bem maior do que uma tela de TV! Eu estava procurando a "televisão bem grande" e não encontrava nada. Jamais iria adivinhar que o filme iria ser projetado naquela enorme parede à nossa frente. Era um filme de guerra, lembro de um jipe que aparecia em uma cena. Mas acabei saindo antes, com minha irmã. Meus pais ficaram.

Durante anos eu tentei entender como aquela imagem aparecia na tela. Minha mãe me explicou, mas o conceito de projeção através de transparência era complexo demais para mim. Às vezes eu olhava para o facho, via uns grãos de poeira e imaginava que era um "pozinho" que era jogado na tela para formar a imagem. Mais tarde eu teria meus próprios projetores Super-8 e entenderia bem o funcionamento.

No entanto, uma idéia errada que eu conservei por algum tempo é a de que os filmes eram produzidos artificialmente, sem necessidade de atores encenando. Ou seja, se alguém quisesse, poderia colocar a mim ou qualquer outra pessoa num filme sem que eu soubesse. Depois, de surpresa, a pessoa se veria na tela, representando cenas que nunca encenou na vida real. Não me preocupava em saber como essa "mágica" era feita, mas achava que era assim que acontecia.

Pois ontem, assistindo aos extras do DVD "Superman, o Retorno", lembrei de minha fantasia de infância. Um dos trechos mais interessantes é o que mostra como foram usadas imagens de Marlon Brando para reviver o papel de Jor-El, pai de Super-Homem. O processo por computador é bem complexo e meticuloso, mas ao final, Brando aparece dizendo coisas que nunca falou em vida. Sua imagem foi manipulada de uma forma mais ou menos parecida com a que eu imaginava que era usada para fazer filmes, quando criança. A rigor, não foi o primeiro caso: Richard Nixon e John Lennon ganharam novas falas em "Forrest Gump".

Talvez um dia os filmes possam ser feitos como eu pensava que fossem na infância, com imagens realistas, mas criadas artificialmente, sem envolvimento direto dos atores. Mais cedo ou mais tarde, com a devida autorização dos herdeiros, alguém há de juntar num mesmo filme vários atores já falecidos para uma superprodução.