sexta-feira, dezembro 15, 2006

Descobertas do baú

Acho que foi em 1989 ou 1990 que vi no Jô Soares Onze e Meia uma entrevista com um menino que até os sete anos não falava nada. De repente, começou a tocar piano e desenvolveu não só a fala mas um dom extraordinário para a música. O garoto tinha cerca de 16 anos na época do programa. Eu o tenho gravado em algum lugar no palheiro de minhas cerca de 100 fitas VHS, muitas com seis horas de gravação cada. Qualquer hora, aparece. Mas o que me chamou a atenção é que o menino, que estava acompanhado de seu pai, deixou de responder a uma pergunta. O pai interveio: "Ele não é de muito falar." Tempos depois, em minhas consultas sobre autismo, recordei daquele programa e concluí que o garoto tinha todas as características de um autista de alta funcionalidade.

Hoje estava passando para DVD uma fita de 1985 com o último capítulo da novela Roque Santeiro e também o "Fantástico" seguinte, que apresentava uma matéria sobre a novela e exibia o final alternativo, em que Porcina embarcava no avião com Roque e deixava o Sinhozinho Malta na saudade. Decidi gravar a fita toda e depois editá-la, já que o gravador com HD permite isso. Lá pelas tantas entrou uma reportagem com um garoto então com 12 anos que havia nascido prematuro, com problemas de desenvolvimento, mas que havia demonstrado uma súbita habilidade com o piano e se desenvolvido de forma surpreendente. A repórter tocou uma gravação de peça clássica para o menino escutar e ele a tocou no piano imediatamente. Meu primeiro impulso foi procurar o nome do rapaz na Internet para ver se havia dado continuidade a seu talento. E apareceu o nome dele, com foto e tudo. Ele é hoje concertista. Só então caiu a ficha: era o mesmo que eu tinha visto alguns anos depois no programa do Jô.

Não vou citar o nome dele, mas o que me surpreende é que o instrumentista, hoje com 33 anos, parece nunca ter tido um diagnóstico de autismo. Ao menos, nenhuma das reportagens sobre ele fala nisso. A cura surpreendente e o dom para música foram atribuídos ao Espiritismo. Não estou dizendo que seja uma avaliação incorreta. As duas hipóteses podem estar certas. Existem estudos e teorias sobre a relação que pode haver entre autismo e Espiritismo. E depois, que diferença faria a essas alturas dos acontecimentos achar um nome novo para um sintoma que foi satisfatoriamente superado? O que importa é que o jovem prodígio é hoje um pianista bem sucedido. Mas todas as informações sobre ele fecham com as características de um autista de alta funcionalidade. Especialmente a facilidade em tocar uma peça de piano que acabou de ouvir e o fato de não ter respondido a uma pergunta no programa do Jô.