sábado, dezembro 02, 2006

Golpe do destino

Ontem, ao escrever sobre Ricardo Carle, usei a analogia da "passagem marcada" como referência à crença de que a hora de morrer está predestinada e nada acontece por acaso. Pois eu não sabia que uma jovem de 18 anos havia morrido no final da tarde, vítima de um desabamento na Avenida João Pessoa, ao lado do viaduto Imperatriz Leopoldina, em Porto Alegre. Uma sacada de um prédio em demolição simplesmente caiu sobre ela. O azar dela foi o de estar passando ali, naquele momento. Podia ser outro. Podia ser qualquer um de nós. Mas foi ela.

Assustador, isso. Remete àquela frase de que "para morrer, basta estar vivo". A Zero Hora hoje lembra, em matéria secundária, que a marquise da Arapuã da Dr. Flores desabou em 1988, matando oito pessoas. Mas não cita o fato de que a loja estava fazendo uma exibição promocional, com música, amplificador e caixas de som. Foram as vibrações que abalaram o prédio e fizeram a placa de concreto se soltar. Por outro lado, recordo de outra ocasião em que caiu uma marquise da Rua General Câmara, matando um transeunte. Essa, sim, foi uma ocorrência totalmente aleatória, como a de ontem.

Às vezes eu volto para a casa a pé. Não é tão longe. Mas, se vou pelo Viaduto dos Açorianos, quando chego no fim da calçada, próximo ao começo da Praia de Belas (ou fim, sei lá), fico de frente a um fluxo contrário de carros que bifurca bem diante de mim. Uns entram à minha direita para subir o Viaduto, outros passam à minha esquerda para pegar a Perimetral. Mas o "V" formado pelas ruas é bem estreito, assim como a ponta da calçada. Enquanto espero para atravessar a rua, olho aquele monte de automóveis vindo aparentemente na minha direção e me pergunto se nenhum deles jamais errou o trajeto. Se um só deles subir na calçada, adeus.

Andar na rua tem seus perigos. Mas nunca se imagina que possa vir de cima. A moça teve muito azar. Poderia não haver ninguém na calçada naquele momento. Ali não circula tanta gente. Aquele trecho da João Pessoa é uma espécie de divisa entre bairros. Mas ela, justamente ela, estava ali. Que golpe do destino.

2 Comments:

Anonymous Carlos Saraiva said...

Só para lembrar: o fatídico dia 06 de outubro de 1988 não foi um sábado, mas sim uma quinta feira.
A propósito, eu estava em frente à Mesbla, bem próximo do local. Inclusive, ouvi o forte barulho da queda da marquise.
Um dia muito triste!

7:20 AM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Minha lembrança é de que era um sábado. Então me enganei. Já retirei a referência ao dia da semana. Quando puder, vou pesquisar no arquivo de jornais do Museu de Comunicação que, infelizmente, passou a abrir somente à tarde.

8:10 AM  

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