quinta-feira, abril 19, 2007

Rio de Janeiro

Estive pela primeira vez no Rio de Janeiro com 10 anos, em 1971. Foi uma viagem inesquecível, pois fui com meu irmão mais velho no mesmo avião dos jogadores do Internacional, que iriam jogar contra o Botafogo pelo Campeonato Nacional. Fiquei no mesmo hotel que eles, assisti à partida (0 x 0) e voltei no ônibus deles para o hotel. Mas mesmo no auge de meu fanatismo de colorado, sobraram olhos para ver o Rio. Eu nunca tinha sequer saído do Rio Grande do Sul, então foi algo tão fascinante para mim quanto ir ao exterior.

Voltei algumas vezes ao Rio. Quando lembro aquelas praias lindas que são Copacabana, Ipanema e Leblon, não consigo pensar em violência, assaltos e balas perdidas. O que fizeram com a cidade mais linda do mundo? Sempre que ouço bossa nova, sou transportado a um Rio de Janeiro que não conheci, mas parece que estou lá, naqueles bares, naquela boemia toda.

Em 1990, fiquei duas semanas no Rio fazendo um curso. E aí tive uma amostra do "perigo oculto" que a cidade representa para quem é de fora. Eu e um colega viemos de ônibus do centro para o Hotel Trocadero, em Copacabana. No caminho, tenho uma vaga lembrança de ter escutado alguém pedir que a porta de trás fosse aberta. Era a de entrada, mas alguém saiu por ali. No outro dia, meu colega me perguntou: "Viste que aquele nosso ônibus foi assaltado?" Não percebemos nada. Foi outro colega quem contou depois. Aconteceu da roleta (catraca, pra quem não é gaúcho) para trás. Depois o ladrão saiu tranqüilamente pela porta de trás. E o motorista abriu, claro. Foi bem no Aterro do Flamengo.

Eis a questão: lá o critério "visual" de lugar seguro não é o mesmo de outras cidades. Aqui em Porto Alegre, numa rua mais ou menos movimentada, é só cuidar bolsas e carteiras que está tudo bem. Lá, não. Lá o assalto pode acontecer em qualquer lugar e é um assunto muito particular entre assaltante e assaltado. Ninguém interfere.

Vai fazer dez anos que estive no Rio pela última vez. Foi em 1997, para ver o show de David Bowie. Às vezes sonho com o Rio. Talvez não com o Rio de verdade. O Rio dos meus sonhos é pacífico e musical. O Rio bossa nova. O Rio poético, tranqüilo, de longas caminhadas nos calçadões à beira-mar. Não troco Porto Alegre por nenhuma cidade do Brasil, nem ousaria reivindicar para mim o orgulho que os cariocas, com toda a razão, ainda têm pelo seu berço. Ainda assim, repito: o que fizeram com a cidade mais linda do mundo?