quinta-feira, julho 19, 2007

Abrindo uma exceção

Em princípio, tenho por norma publicar somente textos originais neste blog. Mesmo que sejam bobagens, mesmo que sejam "choveção no molhado", mas que sejam bobagens e "choveção do molhado" que vocês não irão encontrar em outros sites. Existem muitos blogs que apenas copiam textos de outros endereços. Não vejo o menor sentido de fazer isso. Por que não fornecer apenas o link? Às vezes posso transcrever algum trecho ou artigo de uma publicação impressa que "só eu tenho", mas nunca de outra página da Internet.

Mas hoje vou abrir uma exceção. A crônica de Luis Fernando Verissimo de hoje é perfeita demais. Descreve exatamente por que eu e tantos outros simpatizantes do PT não nos entusiasmamos em vaiar o partido ou o Presidente. Nenhum de nós está alheio às falhas que inegavelmente estão acontecendo. Mas também não nos escapam as verdadeiras motivações de muitos dos que criticam. Antecipando o clímax do texto de Verissimo, "a companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece". Na verdade o cronista está retomando um tema que já abordara rapidamente numa entrevista que concedeu à Isto É em 01/03/2006, em que falou: "O chato de estar no coro dos críticos do PT e do governo é de repente olhar em volta e ver quem são os outros".

Vai lá, Verissimo! Mostra pra eles, mostra!



Cumplicidade

Luis Fernando Verissimo

Uma comprida palavra em alemão (há uma comprida palavra em alemão para tudo) descreve a "guerra de mentira" que começou com os primeiros avanços da Alemanha nazista sobre seus vizinhos. A pouca resistência aos ataques e o entendimento com Hitler buscado pela diplomacia européia mesmo quando os tanques já rolavam se explicam pelo temor comum ao comunismo. A ameaça maior vinha do Leste, dos bolcheviques, e da subversão interna. Só o fascismo em marcha poderia enfrentá-la. Assim muita gente boa escolheu Hitler como o mal menor. Ou, comparado a Stalin, o mau menor. Era notório o entusiasmo pelo nazismo em setores da aristocracia inglesa, por exemplo, e dizem até que o rei Edward VIII foi obrigado a renunciar não só pelo seu amor a uma plebéia mas pela sua simpatia à suástica. Não tardou para Hitler desiludir seus apologistas e a guerra falsa se transformar em guerra mesmo, todos contra o fascismo. Mas por algum tempo os nazistas tiveram seu coro de admiradores bem-intencionados na Europa e no resto do mundo - inclusive no Brasil do Estado Novo. Mais tarde estes veriam, em retrospecto, do que exatamente tinham sido cúmplices sem saber. Na hora, aderir ao coro parecia a coisa certa.

Comunistas aqui e no resto do mundo tiveram experiência parecida: apegarem-se, sem fazer perguntas, ao seu ideal, que em muitos casos nascera da oposição ao fascismo, mesmo já sabendo que o ideal estava sendo desvirtuado pela experiência soviética, foi uma opção pela cumplicidade. Fosse por sentimentalismo, ingenuidade ou convicção, quem continuou fiel à ortodoxia comunista foi cúmplice dos crimes do stalinismo. A coisa certa teria sido pular fora do coro, inclusive para preservar o ideal.

Se esses dois exemplos ensinam alguma coisa é isto: antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado. No Brasil do Lula é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros. Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece.

Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.