domingo, julho 15, 2007

Dois assuntos para domingo

Hoje vai ter "dois em um" no blog. Vamos lá.



As vaias

Na ocasião do impeachment do Presidente Collor, achei que a reação do povo foi um tanto exagerada. Eu não era simpático a ele, fiquei satisfeito com seu afastamento, mas senti também uma certa apreensão por tudo o que estava acontecendo. Depois de 20 anos lutando por eleições diretas, estávamos comemorando a queda de um representante eleito pelo povo. Comemorando, não: fazendo Carnaval. Na minha opinião, o momento não era para festa. Pelo contrário: era de muita reflexão. Por sorte, não houve maiores incidentes nas eleições presidenciais posteriores.

Talvez eu esteja fortemente influenciado pelo fato de ser eleitor de Lula, mas não entendo o "orgulho" pelas vaias ao Presidente na abertura do Pan. Nosso povo deu uma demonstração de antinacionalismo para o resto do mundo e ainda está regozijando por isso. E depois vaiou os americanos. Que belos anfitriões somos nós! E depois não queremos que os estrangeiros tenham uma imagem negativa do Brasil.

A propósito, alguém tem saudade da inflação galopante? Da maxivalorização do dólar? Da censura e da repressão? Ou nem sabem que isso existiu?




Mais sobre crase

Pesquisando normas de redação na Internet, encontrei uma lista interessante de cacoetes de linguagem que devem ser evitados. Expressões como "abrir com chave de ouro", "importância vital", "fonte inesgotável" e outras. Confesso que às vezes eu utilizo várias dessas combinações, mesmo porque existem palavras que se atraem e ficaria até estranho usar um complemento diferente. Faço-o por minha conta e risco. Mas um dos exemplos me chamou a atenção:

inundar (quando não se referir à enchente)

A crase provavelmente foi colocada por um "decorador de regrinhas". Enxergou a palavra feminina "enchente" e concluiu: "tem crase". Outros argumentarão: "é caso de crase opcional". Pode ser. Mas eu defendo a idéia de que não existe crase opcional. Pode existir, isto sim, artigo opcional. A crase é conseqüência. E mesmo assim o redator tem que estar consciente de seu uso. Há casos em que faz diferença. Nesse exemplo, entendo que o artigo é indevido. Logo, não deveria acontecer a crase. Da forma como foi escrita, a expressão me induz a perguntar: "que enchente?" Sim, pois referir-se "à" enchente dá a idéia de que se está falando de alguma enchente específica. Mas não foi essa a intenção. O que o redator quis dizer foi: não se deve usar o verbo "inundar" quando não se referir "a" enchente. Ou seja, a um caso qualquer de enchente. Mas se eu falar, por exemplo, na maior enchente já havida em Porto Alegre, estou-me referindo "à" enchente de 1941. Aí, sim, ocorre crase.

Mais sobre o assunto neste blog em "A crase".