quarta-feira, agosto 22, 2007

Alô amigos

Hoje minha namorada estava conversando ao telefone com uma sobrinha enquanto eu, distraído, trabalhava ao computador. De repente, ouço-a dizer algo assim: "Pois é, o Emílio também não tem amigos. Só virtuais".

Como assim, não tenho amigos? Meu Orkut diz que tenho 274 amigos!

Falando sério, agora percebo o quanto minha rotina me tem retido nos lugares de sempre. Para uma pessoa como ela, sem muitos compromissos, que com freqüência telefona para as amigas para combinar encontros e bate-papos, pode mesmo parecer que alguém que está sempre ocupado não tem amigos. Mas eu sei que os tenho e eles sabem também. É a velha história daquele texto do Paulo Sant'ana, "Meus Secretos Amigos", que muitos pensam ser de Vinicius de Moraes.

Mesmo assim, fiquei preocupado. Será que meus amigos pensam que os abandonei? Que não me importo mais com eles? Prefiro achar, não sem uma ponta de presunção, que eu estou em sintonia com minha época e o que se fazia antes por telefone hoje pode se processar por e-mail. Ou pelo Orkut. Os amigos têm notícias minhas por aqui. E mais do que isso, tenho um apreço muito especial por amigos virtuais, mesmo que os veja pouco ou mesmo nunca. Porque sei que lá do outro lado existe um ser humano, uma pessoa que sabe verbalizar suas idéias e sentimentos de forma que eles cheguem a mim e todos os demais. E, por favor, não pensem que me estou referindo à "farta distribuição de amor" que já critiquei aqui tantas vezes. Pelo contrário: falo exatamente do contato virtual que faz a diferença, que não é uma mensagem repassada de forma totalmente impessoal, mas sim direto de cabeça para cabeça, alma para alma, coração para coração. Até nisso, pasmem, eu defendo a legitimidade da Internet como canal de comunicação.

Por outro lado, talvez eu esteja, sim, falhando com meus amigos. Mas não é só com eles. É comigo mesmo, também. Quantos livros eu ainda quero ler! Quantos DVDs quero ver! Quantas caminhadas quero dar! A quantos shows gostaria de assistir e nem sempre posso! Já me sinto gratificado por estar, aos poucos, pelo menos recomeçando a colocar a leitura em dia, em intervalos "roubados" entre afazeres. O próprio blog já não é atualizado com a mesma freqüência. Mas eu não me sinto como se não tivesse amigos. Talvez não em grande quantidade, pois valorizo mesmo é a qualidade. Mas eles estão aí e sabem quem são. Vamos nos reunir, gente? Agora? Ah, que dá vontade, dá! Jogar tudo pra cima e sair porta afora para matar a saudade de tanta gente... Não desistam de mim, viu? Eu não desisti de vocês.

(Agora imaginem o fundo musical subindo e a voz do Ronnie Von cantando: "tranquei a vida neste apartamento...")