sábado, setembro 15, 2007

A ficção se repete

A situação que se configurou em "Paraíso Tropical", em que Fernanda (Juliana Didone) se confessa apaixonada por seu irmão de criação Fred (Paulo Vilhena), já foi explorada de forma diversa em outra novela há muitos anos, mais precisamente em 1975. Em "Bravo", Fabiana (Neuza Amaral), irmã do maestro Clóvis di Lorenzo (Carlos Alberto), era a vilã que vivia infernizando Cristina (Aracy Balabanian), namorada e depois segunda esposa de Clóvis. No decorrer da novela, fica-se sabendo que a primeira mulher do maestro, Branca (vivida num flashback pela mesma atriz que fazia o papel da filha Lia - Beth Mendes, nessa cena específica envelhecida por maquiagem), sofreu pressão idêntica e acabou se matando. Na última semana antes do final, Fabiana descobre que não é filha legítima dos pais de Clóvis. Numa cena em que aparece sozinha, ela murmura: "Toda uma vida estragada... por uma mentira." Quando volta a encontrar Clóvis, ela revela o que já estava claro para os mais observadores: ela era apaixonada por ele. "Nós fomos feitos um para o outro, por isso seus outros relacionamentos não deram certo, com Branca, com Cristina..." Ela tenta beijá-lo, mas ele a rechaça, dizendo que sempre a enxergou como irmã.

Esse desfecho com certeza já estava arquitetado pela autora original da novela, Janete Clair. No entanto, na metade da trama, Janete abandonou "Bravo" para escrever "Pecado Capital". Seu objetivo era preencher o horário que deveria ter sido ocupado pela versão original de "Roque Santeiro", de Dias Gomes, proibida no dia marcado para a estréia. "O horário das oito não vai sair daqui de casa", ela teria dito para Gomes, seu marido. Só que, com a saída de Janete, quem continou escrevendo "Bravo" foi Gilberto Braga, o mesmo autor de "Paraíso Tropical". A idéia foi reaproveitada.