terça-feira, abril 22, 2008

Viajando nas músicas

Agora há pouco estava ouvindo o CD "Body Wishes", de Rod Stewart, relançamento do LP que ele lançou em 1983, e imaginando o que eu teria achado do disco se o tivesse escutado na época. Na verdade só não o comprei no ano do lançamento porque não curti muito a faixa "de trabalho", no caso, "Baby Jane", que tocava direto no rádio. Rod já gravou coisas bem melhores - antes e depois. Mas tive a surpresa de constatar que o disco é bom, talvez melhor do que o anterior, "Tonight I'm Yours", que eu acabei comprando por gostar da faixa-título. Mas, na soma geral, "Body Wishes" sai ganhando. Inclusive, ele tem algumas músicas que eu lembro de ter ouvido bastante no rádio, como "What Am I Gonna Do (I'm So In Love With You)" e "Strangers Again". Em 1983 com certeza eu teria ouvido esse disco trancado no meu quarto, aos 22 anos, de pé na frente do toca-discos e não sentado diante do computador, como agora. Se iria gostar? Acho que sim, mas sem exageros.

Não é a primeira vez que faço esse "exercício de imaginação" com relação a um disco e uma época. Eu lembro que, logo depois do Festival da Tupi, em dezembro de 1979, apaixonei-me por "Bandolins", de Oswaldo Montenegro, que ele gravou em dueto com José Alexandre. Tive meu breve período de fã do cantor e até hoje considero "Oswaldo Montenegro" (1980) e "Asa de Luz" (1981) dois discos excelentes. Vai daí que, um dia, vi na saudosa Somtrês o anúncio de que José Alexandre lançaria ele próprio um LP. Naquele tempo ele ainda não era o "cantor de festivais" em que viria a se transformar. Gravava músicas de Oswaldo Montenegro e outros do mesmo estilo. Só que, como eu não encontrei o LP nem na Pop Som, achei que o lançamento tinha sido cancelado. Ora, a Pop Som tinha tudo! O que não estivesse lá, não existia. Mesmo que tivesse tido o seu lançamento anunciado na melhor revista de som do Brasil. Com certeza eles estavam delirando. Até que, anos depois, já na era do CD, encontro o LP de José Alexandre, "Alma de Músico", em uma loja de discos usados (mas estava novo). Comprei na hora. Tentei escutá-lo com os ouvidos de 1981, mas não foi a mesma coisa. Mesmo assim, é um disco bonito que mereceria relançamento em CD.

Por outro lado, já aconteceu o contrário, ou seja: de eu ouvir um disco "antes" do momento certo. Em 1977, Fernando Vieira, que tinha um programa de música no canal 10, fez uma promoção para dar LPs de brinde. Nem lembro como fui contemplado, já que ganhei quatro LPs do programa em ocasiões diferentes. Se não me engano daquela vez ele mostrou o trecho de um episódio de "O Rei dos Ladrões" e perguntou quem era o grupo que estava cantando. "A resposta, em forma de carta, representa ganharem LPs." (Bem assim ele falou!) Peguei uma folha de papel e escrevi: "O grupo que apareceu no programa de domingo, que é exclusivamente de som e tem uma hora de duração, foi o FIFTH DIMENSION." Não pude resistir à citação de um clichê do apresentador. Coloquei meu nome e endereço, assinei, envelopei e mandei a carta pelo correio.

Quando fui buscar o disco na TV Difusora (atual Bandeirantes Porto Alegre), depois de uma aula de Educação Física, pela manhã, fiquei em dúvida entre o primeiro LP do Yes e o disco solo de Jon Anderson, "Ollias of Sunhillow". Acabei escolhendo o segundo, mais pela capa. Não gostei muito. Hoje eu penso que, se tivesse levado o do Yes, no mínimo teria curtido as faixas "Sweetness" e "Yesterday and Today". Quanto ao álbum do Jon Anderson, agora é que seria o momento certo de ouvi-lo, pois já conheço melhor o trabalho dele com e sem o Yes. O mais engraçado é que, depois que escolhi meu disco, o assistente do programa me colocou às pressas para dentro do estúdio sem que eu entendesse o que deveria fazer ali. E em menos de um minuto começaria o Portovisão, programa concorrente do Jornal do Almoço que Fernando Vieira abria todas as manhãs (depois vinham Renato Pereira, Tânia Carvalho, notícias, esportes e muito mais). O tema de abertura ("Vento Negro", com os Almôndegas) já estava terminando. Um tanto assustado, sentei-me ao lado de outros adolescentes que também seguravam seus LPs. Cochichei para uma garota ao meu lado: "O que é pra fazer?" Ela respondeu: "Sorrir..." Só então comecei a perceber que Fernando Vieira iria mostrar os felizes ganhadores da promoção do programa exibindo orgulhosamente seus brindes. Dois amigos meus chegaram a me ver.

E assim também ouço discos de Tears for Fears, Madonna, A-ha e fico imaginando como os escutaria se os tivesse comprado na época do lançamento. Esses, no caso, são dos anos 80. Mas quando algum disco é dos anos 70, eu o ouço com curiosidade redobrada, pois considero essa a "minha" década na música. Começo a lembrar quando vi o LP na loja ou quando li os comentários na revista Pop e na Rock, a História e a Glória. Como disse o editor da Starlog na época do sucesso do filme "De Volta Para o Futuro", a verdadeira viagem no tempo se faz através da música. Mas ele se referia a músicas que já se conhecem. No caso, ouvir o que não se ouviu na época é o mesmo que voltar para ver o que não se viu - ou para fazer o que não se fez.