sábado, maio 31, 2008

Lembranças do MPB-Shell-81

Quem assistiu à final do festival MPB-Shell-81, na Globo, não esquece a reação do público ao resultado. O Maracãnazinho em peso torcia por "Planeta Água", de Guilherme Arantes. Isso acabou rendendo vaias à vencedora "Purpurina", do gaúcho Jerônimo Jardim, na intepretação de Lucinha Lins. A composição de Guilherme ficou em segundo lugar. O músico paulistano repetiu a frase proferida no ano anterior por Amelinha, intérprete da também vice-campeã "Foi Deus Quem Fez Você" no MPB-80 ao saber o resultado: "Foi Deus que quis assim!"

Mas houve outro episódio naquele festival que hoje poucos lembram. As eliminatórias eram todas realizadas no estúdio da Globo, fechadas ao grande público, com a platéia composta exclusivamente de convidados. Não havia anônimos: sabia-se exatamente quem estava ali e por quê. E muitos deles - dezenas - eram jurados. Logo, não podia haver qualquer reação durante a interpretação das concorrentes. Aplaudir no meio da música seria abrir o voto, além de configurar tentativa de favorecimento. Assim, todos permaneciam num silêncio sepulcral, limitando-se a aplaudir burocraticamente no fim. Com isso, a fase eliminatória foi fria e antisséptica. Nem parecia festival.

Mas quando Lucinha Lins começou a cantar "Purpurina" na eliminatória, algo mágico aconteceu. Mesmo quem estava assistindo pela TV pôde captar. Todos ficaram hipnotizados, ouvindo aquela belíssima composição, com arranjo e interpretação perfeitos. Quando chegou na metade, não deu pra segurar. Foi um "explode coração". A música era bonita demais. O público de notáveis não se conteve e irrompeu no primeiro aplauso espontâneo da fase eliminatória. Não só palmas: ouviram-se também vozes entusiasmadas desreprimindo a emoção. Tenho uma vaga lembrança de isso ter acontecido novamente com outra concorrente num dia posterior, mas não lembro qual. Mas foi "Purpurina" que conseguiu quebrar o protocolo. Antes mesmo de Lucinha terminar de cantar, já se sabia que a música estava classificada. Os próprios jurados a haviam aplaudido antes do tempo.

Por isso eu não tenho dúvidas de que a vitória da composição de Jerônimo Jardim foi mais do que merecida. Talvez "Planeta Água" tivesse mais vibração para movimentar uma platéia grande como a do Maracanãzinho, mas "Purpurina" era de longe a melhor música. Vale lembrar também que depois os músicos do festival organizaram um show coletivo que saiu em excursão pelo Brasil e "Purpurina" foi muito bem recebida. Em Porto Alegre, então, nem se fala. Lucinha chamou Jerônimo para tocar junto e o público do Gigantinho o aplaudiu de pé.

Este trecho de vídeo que subi para o YouTube foi tirado de um "Memória RBS" apresentado em 1988, imitando o programa competitivo "Guerra dos Sexos", da Globo. A gravação parece ter sido feita no Salão de Atos da PUC, com apresentação do ator Zé Adão Barbosa. Na época em que o programa foi ao ar eu estava com a matrícula trancada na Faculdade de Jornalismo, então foi bom rever por dois segundos meus colegas de FAMECOS na platéia. Dá pra ler nos lábios o que a moça de óculos está dizendo: "Acho que é!"

13 Comments:

Anonymous Musicaemprosa said...

Lembro desse festival. Lembro do público quase que hipnotizado, cantando "Planeta água", e lembro de Ivan Lins, então marido de Lucinha, dando apoio a ela no Palco. Purpurina é uma bela música, bem composta e estruturada, como também é Planeta Água, talvez mais empolgante, e por isso ganhou a simpatia do público

7:59 AM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Com certeza, "Planeta Água" era uma música mais vibrante, que emocionou o público. Mas achei uma péssima atitude vaiar a vencedora. E alguns comentários lá no YouTube são decepcionantes, também. Tem gente que não entende que, em festival, nem sempre o público tem razão. E de qualquer forma a opinão dos jurados não precisa ser a mesma. Meu primeiro pensamento quando soube qual era a música vencedora foi: este é um raro festival em que premiaram realmente a MELHOR música e não a mais divulgada ou aplaudida.

9:21 AM  
Blogger Diana said...

Emilio, voce tem o meu máximo respeito. Planeta Agua mereceu o segundo lugar. Purpurina, em todos os quesitos, mereceu o primeiro lugar. Planeta agua em termos de estrutura musical, arranjo e interpretação não chega nem perto de Purpurina que, além de tudo, contava com a belissima Lucinha, com o vestido perfeito, interpretação impecavel. Nada chegava aos pés da sofisticada harmonia de Purpurina que em tudo tinha a ver com a letra e vice-versa.

Eu acho que o nosso gosto musical começou a sofrer uma forte influencia da midia nos anos 80. O que voce disse é a verdade: ganhou a melhor mesmo, e não o que o público (ja influenciado pela midia?) queria. Depois disso, temo que estamos em um mar de incrivel péssimo gosto musical, e os bons completamente sufocados pelo nosso sistema....

9:33 AM  
Blogger Unknown said...

Eu acho que vcs sabem cantar a música planeta água,e purpurina nem o refrão

4:04 AM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Mais um querendo me conhecer melhor do que eu próprio. Na época eu ainda sabia de cor a letra de "Planeta Água", hoje não sei mais. É muito longa. Posso até tentar lembrar, mas corro o risco de me atrapalhar. De "Purpurina", sei a letra toda até hoje. E nunca esqueci do aplauso espontâneo que Lucinha conseguiu arrancar da sisuda e burocrática plateia de jurados no meio da apresentação, na eliminatória.

3:21 PM  
Blogger Diana said...

:)

5:57 PM  
Blogger Jirayrider_Decade said...

Respeito o argumento, mas discordo.

Purpurina é uma canção lírica e bonita sim.

As vaias para a Lucinha Lins foram pesadas e desagradáveis.

No entanto, não dá pra comparar com Planeta Água.

Uma música ,até hoje , emblemática e atual.
Uma música atemporal.

O que houve, e está evidente , foi um. " bairrismo" da Globo.

Apesar da música Purpurina ser composta por um gay Go, quem a defendia , simplesmente era a então esposa do Ivan Lins ( um grande e espetacular músico, porém do Rio).

Simples assim!

Não há outra explicação.

E o Guilherme é um.paulistano.

Para a Globo, o Rio deve estar sempre em primeiro lugar.

Mas, o Brasil não é só Rio, como também não é o só São Paulo.

A Globo ajudou a construir esa rivalidade tola.

Planeta Água não precisa provar nada pra ninguém!

Está até hoje na boca do povo!


6:33 AM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Eu até ouvi falar qualquer coisa de a Globo estar mordida com Guilherme por ele ter trocado a Som Livre (ligada à Globo) pela WEA, mas vai saber. Ninguém pode provar nem afirmar nada.

2:37 PM  
Blogger Jirayrider_Decade said...

Correção ao comentário anterior :

Música composta por um compositor gaúcho

2:37 PM  
Blogger Diana said...

GAY-GO? Que falta de compostura. Mais uma opinião de quem não entende de harmonia e estrutura de composição, bem como arranjo e interpretação. Planeta agua ta na boca do povo por ser musica "facil, com ingredientes de festival", tipo gente que faz Jingle, assim como a música Escrito nas Estrelas que ganhou em outro ano o MPB shell (adoro a Tetê Espindola, mas a canção é fraca e só ganhou por ficar na "boca do povo"). Simples assim....

6:41 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Diana, ele fez a correção e eu aceitei.

2:16 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

As pessoas têm direito de preferir "Planeta água". O que eu não aceito é essa truculência de querer impor seu gosto e dizer que foi roubalheira, que "Planeta água" TINHA que vencer. Não me conformo de a Globo nunca reprisar a apresentação de "Purpurina" na fase eliminatória, em que Lucinha Lins conseguiu dobrar a sisudez da plateia de jurados e arrancar o primeiro aplauso espontâneo no meio da apresentação naquela etapa. Ela conseguiu quebrar uma regra não escrita de que eles não deveriam se manifestar antes do tempo nem demonstrar preferência por nenhuma concorrente. Nem no MPB-80, no ano anterior, isso tinha acontecido.

2:20 PM  
Blogger Jirayrider_Decade said...

Só quero frisar que acho Purpurina ,uma bela canção e, como disse,no primeiro comentário, considero violentas ás vaias à Lucinha Lins.

Ela não merecia aquilo.

Não xinguei o compositor de gay. Foi um erro de digitação,a qual fiz um segundo comentário corrigindo.



Dito isto, discordo do argumento que Planeta Água é uma música fácil ou de lugares comuns.


É desmerecer a arte de um dos dos nossos maiores e mais geniais compositores.

Planeta Água é tão boa que é atemporal e visionária.

A água é um bem escasso,e o Guilherme já alertava para o uso correto dela e que a tratássemos com carinho.

A questão dos jurados aplaudirem antes da hora dá o indício claro que ,por ser defendida por a cantora do Rio, então, esposa de um grande cantor carioca teria a preferência deles.

A Globo sempre foi bairrista.

O Brasil da Globo ,são as praia de Copacabana,Tijuca, Ipanema e Leblon.

São Paulo é uma província ,segundo essa visão de mundo.

Mais de 90% das novelas representam o Rio.

O Brasil é muito mais que o Rio.

Por fim,quanto à Tetê Espíndola, no Festival de 1985, concordo que tinha músicas melhores.
""O Condor", do Oswaldo Montenegro era uma delas.

10:56 PM  

Postar um comentário

<< Home