segunda-feira, julho 14, 2008

A revolta dos usuários

Esta minha fama de "clarividente", estimulada por alguns amigos e colegas internautas, está me subindo à cabeça. Eu já previa isso. Seja como for, há alguns anos eu comentei que chegaria um momento em que os usuários de microcomputador cansariam de tantas atualizações forçadas. De ter que estar sempre fazendo upgrade de software e hardware, em efeito cascata, sem grandes benefícios. Mudar por mudar, simplesmente porque a Microsoft decretou a obsolescência de certos aplicativos. Haveria um instante em que o consumidor comum daria um basta. Um colega ouviu e discordou de mim. Argumentou que as pessoas são consumistas e citou o exemplo dos que gostam de trocar de carro todo o ano. Procurei reavaliar minhas convicções, mas não me convenci de todo.

Pois o momento que eu previa finalmente chegou. Não sei se vocês perceberam, mas está acontecendo uma rejeição generalizada ao sistema operacional Windows Vista. Eu já constatava isso no limitado universo ao meu redor e agora confirmo por um artigo do The Economist (quem souber inglês pode clicar aqui e ler) que é um fenômeno mundial. Ninguém quer abandonar o XP. Não que seja um sistema necessariamente melhor ou pior do que os outros. É que os usuários em geral perderam o medo de dizer em voz alta: "Não quero mudar o que está dando certo! Agora que consegui fazer o sistema funcionar e me acostumar com ele, me deixem em paz!"

Até há bem pouco tempo, um novo sistema operacional da Microsoft era sempre recebido com euforia. Se alguém não gostasse da novidade é porque não estava sabendo usá-la. Só mesmo um leigo não perceberia as inegáveis vantagens do Windows 95, do Windows 98 e todas as vedetes que se sucederam. Na prática, era uma dor-de-cabeça atrás da outra. Mas ninguém queria passar por incompetente ou resistente à mudança. Se os especialistas diziam que era bom, então era só uma questão de adaptação. Até que, como na historinha da Roupa Nova do Imperador, descobriu-se que o rei estava nu.

Não se está querendo rejeitar a evolução. Variáveis como velocidade de rede, capacidade de memória e poder de processamento continuarão crescendo impulsionadas principalmente pelos recursos de multimídia. Um dia teremos verdadeiramente "televisão via Internet" com a mesma qualidade dos sistemas convencionais hoje utilizados. Mas esse avanço não precisa vir acompanhado de mudanças arbitrárias na interface ou na arquitetura dos aplicativos. Muito menos pela obsolescência forçada de programas que poderiam continuar em uso. De repente, o usuário se vê obrigado a substituir as versões de diversos utilitários sem grandes benefícios agregados. Acrescentam-se menus dinâmicos, animações e uma série de outros recursos não solicitados e, em última análise, dispensáveis. Assim, penaliza-se a máquina e obriga-se o usuário a aprender tudo de novo.

Mas chegou o momento esperado. O instante em que os usuários, espontaneamente, decidiram se rebelar. Chega de atualizações inúteis. Ninguém pediu o Windows Vista, assim como não se havia solicitado antes o XP, o 98, o 95 e tantos outros. Queremos, sim, computadores cada vez mais poderosos e versáteis. Mas nada de ter que substituir programas na marra para continuar fazendo a mesma coisa. Muito menos instalar novos sistemas operacionais que nos trarão mais incômodos do que benefícios durante o processo de adaptação. Certa fábrica havia anunciado que não entregaria mais computadores com Windows XP, mas teve que repensar sua estratégia para não perder as vendas.

A revolta dos usuários começou. Não recuemos agora.


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