quinta-feira, novembro 20, 2008

Texto do baú

Em 1999, um colega de trabalho criou um jornalzinho a que chamou "Kosovo do Povo". O jornal existe até hoje e é sempre publicado no setor em que o citado colega estiver trabalhando. Pelo que ouvi falar, continua bastante aguardado e não perdoa ninguém. Todos são devidamente esculachados. Inclusive, recentemente foi confeccionada e vendida uma camiseta com os dizeres "Kosovo do Povo - Eu leio e entendo".

Quando o jornal ainda estava em seus primeiros números, eu colaborei com algumas edições. Como em uma delas eu fui carinhosamente chamado de "Teletubby", minhas matérias eram assinadas "Emílio Tinky Winky". Quem colocou o "Tinky Winky" foi o editor, mas eu decidi assumir o apelido. Hoje tive chance de reler um de meus textos e decidi republicá-lo aqui. Explicando: fazia pouco tempo que tinha sido organizada uma festa do setor. Mas não era permitido levar cônjuge ou acompanhante. Duas colegas tiveram sérios problemas com seus maridos em função disso. Então o Kosovo do Povo de novembro de 1999 publicou o que segue:

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Estreando hoje um novo serviço aos leitores:

“Tinky Winky Conselheiro Sentimental”

Caro Tinky Winky:

Desde que fui sozinha a um churrasco comemorativo do meu local de trabalho, meu marido não fala mais comigo. Expliquei pra ele várias vezes que era só para empregados do setor, que não era permitido levar marido nem filho nem irmão nem amigo nem cachorro, mas ele não acredita. Pensa que foi só uma desculpa para ir sozinha e fazer sei lá o quê. Mas não fiz nada de mais, só comi churrasco, dancei com os colegas (separada, não encostei em nenhum deles) e cantei no Karaokê. Não cantei ninguém nem ninguém me cantou. Mas a imaginação do meu marido é fértil e por causa disso corro o risco de perdê-lo. Que fazer?

Inocente Condenada

Cara Inocente Condenada:

Vocês, mulheres, não sabem fazer a coisa direito. Calma, não é “a coisa” que você está pensando. Ir a um churrasco com colegas de trabalho sem o marido não é problema nenhum. Problema é chegar em casa depois com um sorriso no rosto e um brilho no olhar do tipo “nunca me diverti tanto em minha vida”. Aí, o pobre marido se sente um inútil, um desnecessário, um mero pagador de contas e chofer de plantão. Da próxima vez (se houver próxima vez), chegue em casa com uma fisionomia desolada e vá logo dizendo: “ah, benzinho, que saudade, não via a hora de ir embora, festa sem você não tem graça nenhuma, vem cá, dá um beijinho...” Pronto! Mas já que você não fez isso, corre mesmo o risco de ficar sozinha. Se isso acontecer mesmo, entre em contato com a redação para marcarmos um encontro e eu poder lhe dar uns conselhos mais aprofundados pessoalmente. Quem sabe num restaurante...

Mais uma carta:
Caro Tinky Winky:

Estou preocupada. Meu marido foi sozinho a um churrasco comemorativo do local onde ele trabalha. Ele disse que não era permitido levar marido nem filho nem irmão nem amigo nem cachorro, mas não consigo acreditar. Acho que foi só uma desculpa para ir sozinho e fazer sei lá o quê. Ele diz que não fez nada de mais, não comeu ninguém, só churrasco, não encostou em ninguém e não cantou ninguém, só Karaokê. Talvez a minha imaginação seja fértil, mas o fato é que ele chegou em casa com um sorriso no rosto e um brilho no olhar do tipo “nunca me diverti tanto em minha vida”. Aí eu me senti uma inútil, uma desnecessária, uma mera lavadora de roupa e cozinheira de plantão. Que fazer?

Esposa Desconfiada


Cara Esposa Desconfiada:

Da próxima vez (se houver próxima vez), você recebe o seu maridinho com a maior festa e diz: “ah, benzinho, que saudade, não via a hora você chegar, ficar em casa sem você não tem graça nenhuma, vem cá, dá um beijinho...” Que remédio? Você só tem duas opções: confiar ou não confiar. Se a situação ficar caótica e você achar que não tem mesmo volta, entre em contato com a redação para marcarmos um encontro e eu poder lhe dar uns conselhos mais aprofundados pessoalmente. Mas avise com antecedência, que do jeito que vai a minha agenda vai estar bem cheia. A menos que você não se incomode em fazer uma sessão de aconselhamento coletivo. Quem sabe no meu apartamento...

Por fim, a última carta.

Caro Tinky Winky:

Deixei de ir a uma festa do meu local de trabalho porque não podia levar o meu marido. Na hora, pensei ter feito a coisa certa. Mas no dia seguinte, quando vi meus colegas com um sorriso no rosto e um brilho no olhar tipo “nunca me diverti tanto na minha vida”, lamentei o que perdi. E agora? Da próxima vez (se houver próxima vez) como devo agir? Vou ou não vou?

Madalena Arrependida (do que não fez)


Cara Madalena Arrependida (do que não fez):

Vocês, mulheres, não sabem mesmo o que querem, blá, blá, blá, etc, etc... Quem sabe num motel...

That’s all, folks. Tcha-au! Tcha-au!