quarta-feira, abril 15, 2009

Há dez anos, Kiss em Porto Alegre

Enquanto os paulistas e cariocas ainda não esgotaram seus comentários sobre as apresentações do Kiss na semana passada, a nós, de Porto Alegre, resta a lembrança de exatos dez anos atrás. No dia 15 de abril de 1999, o lendário e polêmico grupo mascarado se apresentou no Hipódromo do Cristal, com abertura da banda alemã Rammstein. Era um momento curioso da carreira do Kiss: em 1996 eles haviam colocado em prática um antigo plano de trazer de volta a formação original com maquiagem e tudo. O que era para ter sido um projeto temporário acabou virando definitivo. Além de resgatar o repertório do período 1974-1979, Gene Simmons, Paul Stanley (os que participaram de todos os discos), Ace Frehley e Peter Criss (os dois que voltaram, os chamados "bad boys" do Kiss) acabaram por lançar um CD de inéditas em 1998, "Psycho Circus". Então a turnê era para promover o disco novo e relembrar os antigos sucessos. Mas, naquele show, não havia a menor chance de eles cantarem qualquer música que não tivesse sido originalmente lançada pela formação acima. Faixas gravadas entre 1981 e 1997 estavam fora de cogitação, mas nem todos perceberam isso. O público pedia "I Love it Loud" enquanto as rádios tocavam "Forever". A Atlântida FM até escolheu "We Are One", do novo CD, para incluir na programação, mas foi um erro de cálculo: era uma composição atípica de Gene Simmons, num estilo meio Tears for Fears, que não estava sendo apresentada nos shows. Isso poderia ter sido verificado nos set lists divulgados na Internet.

Eu fui com credencial, cobrindo o show para o International Magazine. Achei melhor ir de táxi e fiz bem, pois ao chegar na Avenida Diário de Notícias, o trânsito se arrastava. Desci ali mesmo e segui a pé até a entrada. Vi um ônibus cheio de fãs que me lembrou torcedores em dia de futebol. A euforia era a mesma.
Antes do show, conversei com um fã de Sorocaba, Augusto, que tinha conseguido credencial através de um fã-clube. Ele me apresentou uma moça que estava do lado de dentro da área reservada e se dizia "a namorada brasileira de Gene Simmons". Lembro o nome dela, mas não vou citar sem autorização. Avistei também o crítico Juarez Fonseca, que trabalhou na Zero Hora nos anos 70 e boa parte dos 80, e aproveitei para perguntar por onde andava. Na verdade eu já tinha ouvido falar que ele escrevia para o NH de Novo Hamburgo, mas eu realmente não lia o jornal. Depois um americano nos passou instruções sobre como deveríamos tirar as fotos. Como é usual, ficaríamos em frente ao palco durante as duas primeiras músicas. Depois sairíamos dali e não seria mais permitido fotografar.

No show de abertura, fiquei bem impressionado com o Rammstein. Como escrevi na minha matéria para o IM, "a quantidade de fogo que a banda alemã usa no palco faz a tocha de Gene Simmons parecer um palito de fósforo". Fiquei feliz de não estar bem na frente quando um bloco de fumaça invadiu a plateia. Mas virei fã do grupo e tratei de comprar o DVD "Live Aus Berlin" na primeira oportunidade.

Quando o show do Kiss teve início, o acesso dos fotógrafos à frente do palco foi atrasado porque um dos jornalistas começou a gravar em vídeo sem autorização. A produção ficou pedindo que ele entregasse a fita. Não sei como o assunto se resolveu, mas finalmente fomos levados até o local. Já fazia alguns segundos que o grupo estava tocando a primeira música, "Psycho Circus". Ver meus ídolos de adolescência bem de perto foi uma sensação curiosa. O rosto de Gene Simmons maquiado parece de plástico e sua roupa metálica tem um brilho imponente. Ele pode não ser o melhor cantor ou compositor da banda, mas visualmente, é o que mais chama a atenção. Ele e Paul Stanley vinham à beira do palco e posavam longamente para as lentes, como vocês podem ver aqui (ao contrário do que muitas vezes acontece em shows de artistas internacionais, os fotógrafos não precisaram assinar documento nenhum comprometendo-se a não usar as imagens de outra forma que não para publicação nos veículos que os credenciaram). Ace Frehley ficava mais na dele e Peter Criss praticamente sumia por trás da bateria.
Depois de "Shout it Out Loud", saímos dali e fomos assistir ao show no meio do público. Com exceção dos efeitos de terceira dimensão nos telões, que eram visualizados com óculos que recebemos na entrada (tenho o meu guardado até hoje), o show era exatamente o mesmo que o Kiss fazia em 1977. Para quem já conhecia os vídeos "Kiss Exposed", "X-treme Close-Up", "Kiss Konfidendial" , "Kiss My A**" e o documentário da volta, "Second Coming", não houve surpresas. Hoje circula um vídeo de péssima qualidade que foi gravado por um fã em Porto Alegre sem que os seguranças vissem. Vale como recordação, mas não como entretenimento.

Ao final, eu, o Augusto (o fã que citei acima) e os amigos dele do fã-clube fomos tentar conseguir uma palheta de souvenir. Um rapaz da produção local nos trouxe uma para cada um com o nome de Ace Frehley gravado:
 
Já uma moça da produção americana foi presenteada com uma camiseta do fã-clube. Vimos também um dos roadies americanos ser socorrido após uma barra de ferro de um dos telões ter caído sobre sua cabeça, deixando-o desacordado. Ele foi levado para o Hospital Mãe de Deus e, depois vim a saber, não se machucou muito. Conversei um pouco com Neka Machado, minha ex-professora de Famecos que foi a responsável pelo credenciamento. Ela nos contou que um dos integrantes do Kiss – pela descrição, Ace Frehley – saiu do show carregado direto para a van que os levaria para o hotel.
Na volta, vim de táxi com os amigos do Augusto, que ficariam em um hotel do centro. Eu desci antes. Ele, infelizmente, teve que voltar, pois perdeu os documentos. Mas conseguiu localizá-los. Ele me telefonou algumas vezes depois disso e mandou alguns e-mails, mas depois perdemos o contato. Antes de dormir, ainda acessei a Internet (nos velhos tempos da linha discada) e escrevi um rápido comentário do show em um fórum do Kiss em inglês de que eu participava. Um dos membros era Dale Sherman, autor dos livros "Black Diamond" e "Black Diamond II". Quando saiu minha matéria no International Magazine, ele pediu que eu lhe enviasse um exemplar. Fui deitar e acho que mal tinha pegado no sono quando fui acordado pelo barulho de uma chuva torrencial. Pensei: ainda bem que só está caindo agora. Se o show tivesse sido no dia seguinte, teríamos um frio de rachar, com um vento gelado e cortante.
O que me surpreende é que tudo isso tenha acontecido há dez anos e, para mim, foi como se tivesse sido anteontem. Dez anos é muito tempo. Dá pra fazer muita coisa. Eu até fiz algumas coisinhas, mas poderia ter feito mais.
A propósito, a formação do Kiss que veio ao Brasil na semana passada não é mais a mesma. Ace Frehley (acima e abaixo) e Peter Criss foram substituídos por Tommy Thayer e Eric Singer, respectivamente. Pelo que fiquei sabendo no Orkut, houve grandes confusões em relação aos nomes dos músicos, tanto por parte dos fãs quanto da imprensa.
Este é um legítimo Ace Frehley. Não aceite imitações.


"Shout it..."

"...shout it..."

"...shout it out looooooud..."




P.S.: Não posso deixar de contar o que aconteceu no dia em que fui buscar essas fotos no laboratório. A propósito, elas foram tiradas com uma Zenit, que não tem um fotômetro muito confiável. Por isso a qualidade das imagens está longe de ser profissional. Não me acho mau fotógrafo, mas uma máquina melhor teria ajudado bastante. Enfim, quando voltei para o meu local de trabalho, decidi impressionar a recepcionista, uma loira bem interessante. Mostrei pra ela: "Olha aqui, fotos do show do Kiss!" E ela, instantaneamente: "Ah, que legal, quem é que foi, seu filho?"
(Pano rapidíssimo...)

Leiam também:
Kiss no Gigantinho (show de 2012)

12 Comments:

Blogger Vinícius da Cunha said...

12 anos hoje. Legal encontrar esse teu post!

8:37 AM  
Anonymous Rafael de Azevedo Irala - jedisul said...

Eu estava lá. 1999 foi um ano...instigante acho, para mim. Marcante, enigmático. E "We are one" foia música daquele ano, talvez causando o mesmo efeito que "Stairway To Heaven" deve ter causado em 1971, no qual a canção em questão se torna popular até mesmo entre quem é indiferente ao Rock n' Roll. E é sobre este que encerro este comentário:
Longa Vida ao Rock n' Roll!

10:03 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

"We Are One" foi a música que a Atlântida FM escolheu para tocar, mas acho que, fora daqui,não foi sucesso. Foi marcante para quem ouvia rádio em Porto Alegre. Tanto que eles nem tocaram. Acho que nunca tocaram ao vivo.

10:15 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nem curto, mas só pra constar, We Are One foi bastante tocada também aqui em São Paulo, não apenas na época.

2:38 PM  
Anonymous Rafael de Azevedo Irala - jedisul said...

Sr. Pacheco,

Será que a RBS não tem o registro deste concerto?
Lembro que a matéria sobre este espetáculo foi logo na primeira edição do "Patrola" da RBS.

Como já é de prache, muito bom ter encontrado outro membro desta "Infantaria Porto Alegre 1999".

Saúde, Paz e Rock N' Roll, Emilio!

2:33 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

A RBS ainda deve ter as imagens que registrou, mas não o show todo. Infelizmente não assisti a esse Patrola, só vi uma chamada posterior em que o grupo aparecia. Senão com certeza teria gravado.

5:17 PM  
Blogger Unknown said...

Bah que bacana esse post. Eu tbm ui no show do Kiss de 1999,fiquei na primeira fila, na grade , ganhei 2 palhetas hehe e lá conheci o meu marido. Estamos juntos até hoje e este ano fomos novamente ao show aqui em porto, ficamos na grade, novamente na frente do Paul, que me deu 2 palhetas =D e foi um baita show, como sempre.

8:08 PM  
Anonymous Anônimo said...

EU GOSTARIA DE COMPRAR O SHOW(DVD) NA INTEGRA DO KISS EM 1999(PORTO ALEGRE)QUEM SOUBER DE ALGUEM,VOU DISPONIBILIZAR MEU E-MAIL,OBRIGADO PELA GENTILEZA. lindomar.pio@hotmail.com

12:43 AM  
Blogger Cássius Rodrigues said...

Amigo muito bom encontrar este texto e essas fotos, mesmo que tardiamente. Foi o melhor show da minha vida e também tenho muitas histórias sobre ele. Fui ver o show recentemente no Uruguai, mas nem perto daquele de 99. Comentei em meu blog quando fez 9 anos daquele show, e ao mudar de blog, postei de novo em 2012, confere lá:http://rapsodiasnefarias.blogspot.com.br/2012/04/um-show-do-kiss-e-uma-experiencia.html

Abraço!

9:11 PM  
Blogger Unknown said...

Eu vi esse show dessa turnê, mas em São Paulo, e já vi outros shows do Kiss, pra mim musicalmente o melhor foi de 1994, no Pacaembu, no evento Monster

11:10 AM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Esse de 1994 deve ter sido muito legal. Meus sobrinhos foram e trouxeram uma camiseta do Kiss de presente para mim. Eu gosto da fase "cara limpa" do Kiss, não sei por que tanto preconceito contra esse período.

11:56 AM  
Blogger Renan José Panitz said...

Estive lá, 25 anos hoje!

11:30 AM  

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