quarta-feira, abril 22, 2009

Limites tácitos

Limites fazem parte de nosso cotidiano. Temos que observá-los em tudo o que fazemos. No entanto, nem todos estão definidos em leis ou normas escritas. Existem também limites tácitos. Esses não se expressam em números exatos. Dependem do bom senso e da percepção de cada um. Quando alguém começa a ultrapassar esses limites tácitos, termina por sofrer algum tipo de consequência.

O primeiro exemplo que vou citar fica prejudicado para mim, pois já disse várias vezes que não gosto de emprestar nada, sejam livros, CDs, DVDs ou o que for. Se isso é ser egoísta, então eu sou. Mas há pessoas que emprestam sem problemas. No entanto, mesmo esses indivíduos mais desprendidos começam a sentir um certo desconforto diante de um pidão contumaz, aquele que faz do patrimônio dos amigos uma extensão do seu. Ou seja: ele está ultrapassando um limite tácito.

Outro caso é o das pessoas que pedem ajuda. Muitas vezes já revisei textos por solicitação de gente conhecida. Também é comum me pedirem dicas de inglês ou português. Caronas que não alteram drasticamente o trajeto, um favor especial em casos de emergência, tudo isso é válido. Mas se alguém passa a querer ajuda para tudo, a todo o momento e em qualquer situação, mostra-se um sujeito dependente, que não assume seus fardos. Sempre precisa de outro para agir por ele.

Haveria vários outros exemplos, mas vou citar só mais um: todos nós, em algum momento, podemos entrar em crise e precisar de um ombro amigo. Feliz de quem nunca passou por um instante de angústia, de desespero, de sentir o mundo desabar. Nessas horas, é normal que queiramos um "colinho de mãe", um afago, uma palavra de conforto ou simplesmente um abraço. Mas se uma pessoa vive de baixo astral por um motivo ou outro ou se "desmorona" diante de um mínimo revés, torna-se um depressivo crônico. Pode até ser um problema clínico que precisa ser tratado, mas não se pode descartar a hipótese de simples desânimo e falta de ação para enfrentar adversidades. Gente assim está sempre chorando e se lamentando.

Pessoas como essas, que ultrapassam rotineiramente os limites tácitos, acabam sofrendo quando percebem que os outros se afastam. Quem convive com esses abusados reincidentes passa a criar barreiras para se resguardar. E assim, o pidão contumaz começa ouvir "não" para pedidos em que outros ouviriam "sim". O solicitante de ajuda não a recebe mesmo em situações que seriam compreensíveis, pois já ficou marcado. A pessoa depressiva não obtém apoio nem mesmo em situações de crise real, pois os amigos já não levam suas queixas a sério. É o preço que se paga por estar constantemente ultrapassando e desconhecendo os limites tácitos. As portas se fecham, os rostos se viram e os ouvidos ignoram. É preciso exercitar uma postura equilibrada para que as pequenas liberdades só sejam tomadas na hora certa e tenham a acolhida esperada.