quarta-feira, agosto 19, 2009

Perdido na minha própria cidade

Apesar de sempre ter morado em Porto Alegre, existem bairros de minha própria cidade que são desconhecidos para mim. Já estive lá algumas vezes, mas não conheço ruas ou trajetos. Pode parecer estranho, mas fazendo uma analogia, é mais ou menos como quem mora alguns meses ou anos no exterior e não aprende a língua local como poderia. Algumas pessoas são bloqueadas para idiomas. Eu sou assim para itinerários. Até uma certa idade, eu saía pouco. Mas mesmo nas voltas de carro com meu pai, eu não prestava atenção nas ruas e caminhos. Bairros eram imagens isoladas na minha cabeça. Eu não sabia como se interligavam. Quando fiz autoescola, expliquei isso ao meu instrutor. Ele me fez circular pela cidade toda, achando que, assim, eu aprenderia a me localizar melhor. Mas, naquela situação, minha preocupação era apenas dirigir bem, fazer as mudanças corretamente e conservar a posição certa nas pistas da rua. Até hoje, se alguém for me guiando passo a passo, dizendo de última hora cada rua onde devo entrar, eu não memorizo o trajeto. Se for bem explicado antes, aí até posso aprender. Meu filho, com todas as suas dificuldades, parece ser bem mais atento a itinerários do que eu. Certa vez entrei com ele no ônibus Assunção, quando ele estava acostumado com o Praia de Belas. Quando o veículo dobrou à direita logo após a escola Parobé, ele reclamou.

Pois um dos bairros relativamente desconhecidos para mim é Teresópolis. Anteontem à noite, consegui chegar lá, mas dobrei para o lado errado da avenida e fiquei todo atrapalhado para retornar. No final, o jeito foi pegar o celular e recorrer a uma "operação resgate". Mas o pior estava por vir. Na volta, deixei de entrar na rua certa e fiquei completamente perdido. Em minha defesa, posso dizer que a sinalização era falha. Se existe um cartaz dizendo onde você deve entrar para ir à Azenha, você presume que aparecerá outro adiante caso seja preciso fazer outra curva. Mas não, aqui em Porto Alegre (e acho que no Brasil todo), os sinais são um tanto vagos. Presume-se que, se lhe apontarem uma única direção, você "se acha" depois. Pois eu experimentei a sensação de ficar completamente perdido. Isso já me aconteceu antes, mas à luz do dia e num local bem mais amplo. Ali onde eu estava, só havia casas, casas e mais casas. Quanto mais eu seguia em linha reta, parecia que estava entrando num local ermo e perigoso. Nenhuma artéria principal, nenhum posto de gasolina, nada. Cheguei a pensar em voltar, mas seria pior. E não adiantava usar o celular, pois eu não tinha a mínima ideia de onde estava. Nem placa com nome de rua eu consegui encontrar.

De repente, apareceu uma rua mais ou menos iluminada. Logo adiante, havia sinalização de bairros. Oba! Eu ia dobrar à esquerda para chegar ao Centro, como indicava a placa, quando percebi onde estava: eu me dirigia à rua Padre Cacique, do Beira-Rio. Estava bem perto de casa! Era só prosseguir em frente. Ufa! Agradeci a Deus por me tirar da enrascada. Mas assustado mesmo eu fiquei quando fui verificar no mapa o trajeto que tinha feito. Em vez de ir para o norte, dirigi-me a oeste. E passei bem perto da Vila Cruzeiro do Sul. Aliás, acho que passei por dentro, mesmo, embora não na parte mais perigosa. Depois até tentei resgatar da lembrança as imagens do percurso, pois sempre tive curiosidade de saber como era essa parte da cidade. Mas não dessa forma! Ainda bem que foi só um susto.

Já dirigi em Brasília e também na Flórida, nos Estados Unidos. Às vezes acho que seria mais fácil para mim me localizar numa cidade totalmente estranha, em que todos os bairros são novidade, do que numa cidade como Porto Alegre, que se divide em áreas conhecidas e desconhecidas para mim. Não no primeiro dia, claro, mas se eu me mudasse. Se bem que é praticamente impossível ficar perdido em Brasília, com as quadras numeradas como se fossem coordenadas. E nos Estados Unidos, ao menos nas cidades turísticas, a sinalização é farta. Mas não tem desculpa, eu sei que deveria conhecer melhor Porto Alegre. É por isso que eu digo que jamais poderia ser taxista. Além de não morrer de amores pela direção e achar nosso trânsito um tanto hostil e perigoso, eu ainda consigo me perder na minha própria cidade.