terça-feira, novembro 30, 2010

Segunda parte da entrevista

A segunda parte da entrevista que concedi para Rogério Ratner já está disponível no site da Buzina do Gasômetro. Cliquem aqui, procurem o ícone do programa Paralelo 30, cliquem em "detalhes" e depois é só procurar o título da primeira (pra quem ainda não ouviu) e segunda parte da entrevista. Cliquem em "ouvir" para escutar.

P.S.: Não sei de onde saiu um barulho que se ouve de tempos em tempos que parece uma rolha espocando. Se fosse mesmo, teríamos aberto sei lá quantas garrafas. Mas não sei do que se trata.

E a última música é anunciada como "Mentiras", de Galileu Arruda, mas é na verdade o outro lado do compacto, "Magro de Gravata", do MPB-81. Não sei se o erro foi dele ou meu ao indicar o título, mas não faz mal. Ele perdeu uma parte do áudio e precisou fazer pequenas edições, como vocês vão notar.

sábado, novembro 27, 2010

Colorado sem exageros

Certa vez comentei aqui no Blog que sou tão apaixonado por documentários que compraria até mesmo do Grêmio, se saísse. Afinal, era o time do meu pai e faz parte da história de Porto Alegre, que é um assunto de meu interesse. Pois, acreditem se quiserem, os DVDs saíram e eu comprei todos. Tenho os do Inter também, claro. Mas gosto de reportagens bem feitas.

Tive uma fase doentia como colorado, mas felizmente passou. Em alguns jogos, consigo torcer de verdade para o Grêmio, mesmo sabendo que dificilmente algum torcedor gremista retribuiria o meu gesto. Talvez o meu pai, lá no além. Como gaúcho, fiquei orgulhoso quando o coirmão conquistou seu primeiro título nacional em 1981, contra o São Paulo.

Já no ano passado, quando uma vitória do Grêmio contra o Flamengo daria o título nacional ao Inter, eu sonhei com um milagre. Quando o time da Azenha começou vencendo, cheguei a me emocionar. Comecei a redigir na minha cabeça o texto que postaria no Blog, de que o espírito esportivo superou rivalidades bobas e aquele era um dia histórico para o futebol gaúcho, blá blá blá... Como se sabe, nada disso se concretizou. E mais decepcionado ainda fiquei quando soube que torcedores gremistas esperaram os jogadores no aeroporto para xingá-los por ter mostrado garra em vez de entregar descaradamente a partida.

(Antes de seguir com o assunto, uma observação: colocar jogadores reservas para entregar um jogo não me parece uma boa tática. Ao saber que estão sendo escalados "porque o time tem que perder", eles podem se encher de brios e mostrar serviço.)

Às vezes eu me pergunto como nós, portoalegrenses, conseguimos conviver pacificamente com esta rivalidade acirrada. Além do meu pai, tive um irmão gremista (já falecido) e também namoradas gremistas. Amigos, colegas, gente do bem, todos torcendo pelo adversário. Mas, na hora do jogo, tudo parece virar uma guerra. Esporte deveria ser congraçamento, diversão, competição sadia. Esse tema já foi explorado no filme "Domingo de Gre-Nal", de 1979, com roteiro do colorado Sérgio Jockymann. Era uma sátira à história de Romeu e Julieta, inclusive com os mesmos nomes dos personagens. Só que, em vez de Montecchios e Capuletos, era uma família de colorados e outra de gremistas. Paulo Sant'ana fazia o papel do pai da Julieta (gremista).

Lembrei de tudo isso porque ontem, numa vitrine, enxerguei os dois DVDs da série "100 anos de Gre-Nal": "Supremacia Vermelha" (do Inter) e "Grem10x0" (do Grêmio). Entrei na loja e disse: "Quero levar os dois." O vendedor não esboçou nenhuma surpresa, aparentemente. Mas, na hora de pagar, a moça do caixa perguntou: "São pacotes separados?" A princípio, achei que ela não conseguia acreditar que os DVDs seriam para a mesma pessoa. Ou ficou com medo de que eles começassem a brigar dentro da embalagem. Na verdade o que tinha acontecido é que o vendedor tirou duas notas. Automaticamente, sem pensar muito, ele fez isso. Na cabeça dele, os dois produtos não poderiam coexistir pacificamente na mesma nota. Ele estava programado para jamais juntar, numa mesma fatura, Grêmio e Inter. De certa forma, isso lembra o que já comentei aqui sobre estereótipos.

Quando tiver assistido aos DVDs, farei um comentário comparativo. Por ora, quero dizer que tenho muito respeito pelo Grêmio. A rivalidade engrandece as conquistas do Inter e, se bem administrada, pode ser um fator de motivação para a valorização do esporte.

Mas o Inter é melhor.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Gato por lebre

Pelo visto, virou moda no Brasil anunciar shows estrangeiros de forma enganosa. Se vem banda de cover, dizem que é a própria (como já aconteceu por duas vezes com o Abba). Pois esta imagem está sendo promovida no Orkut. Vejam bem o que está escrito: "Bee Gees no Brasil". Na verdade é apenas o Robin Gibb que virá. No dia 10 de dezembro, sexta-feira, ele estará em Porto Alegre, no Pepsi on Stage.
Robin era a principal voz dos Bee Gees no final dos anos 60, fazendo vocal solo em sucessos como "Massachusets" e "I Started a Joke". Depois de um momento de crise em 1970, em que o grupo chegou a se separar, a figura central do grupo passou a ser a do irmão mais velho Barry, em especial na fase disco music na segunda metade da década. Mas Robin continou tendo participação marcante e manteve uma carreira solo em paralelo.
Robin já esteve no Brasil antes (mas se apresentou somente em São Paulo) e, embora os fãs tenham adorado ver seu ídolo de perto, fizeram críticas ao repertório. O erro do cantor é tentar fazer um "show Bee Gees", incluindo músicas que ficaram consagradas na voz do irmão Barry. Se ele se restringisse aos sucessos cantados originalmente por ele, mesclados com os destaques da carreira solo, seria uma apresentação perfeita. Mas os menos informados poderiam reclamar ("pô, não cantou aquela..."). De qualquer forma é um show que vale a pena ver. Eu estarei lá. Mas não são os Bee Gees!

domingo, novembro 21, 2010

Vivendo Porto Alegre

Adorei o blog Vivendo Porto Alegre, de Carlos Ribeiro. Quando descubro relíquias como estas é que sinto peso na consciência por nunca mais ter retomado o hobby da fotografia como gostaria. Quando eu estava quase decidido a comprar uma Canon convencional, há alguns anos, a fotografia digital tomou o mercado de assalto. Ainda estou esperando que o preço de uma boa câmera digital chegue a um patamar mais acessível. E quero dominar plenamente os seus recursos para poder fotografar como nos velhos tempos, com instantaneidade (algo que se perdeu nas máquinas digitais compactas) e pleno controle das variáveis básicas (abertura, velocidade e profundidade de campo). Mas para isso não basta dinheiro: é preciso também tempo.

Também achei sensacional o vídeo abaixo. Uma bela montagem do trânsito de Porto Alegre em seus diversos ângulos. Parabéns ao Carlos pelo trabalho e continue fotografando nossa cidade com esse "olho clínico". E quero ver mais vídeos como este.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Rogério Ratner me entrevistou

Já está no ar a primeira parte da entrevista que Rogério Ratner fez comigo para a Rádio Buzina do Gasômetro. Foi um papo legal porque eu e ele temos praticamente os mesmos interesses relacionados a música. Cliquem aqui, procurem o programa Paralelo 30, e ali o título "ENTREVISTA COM EMÍLIO PACHECO PARTE I". Minha voz estava levemente rouca, mas não prejudicou o entendimento. Além da conversa, ouvem-se também algumas raridades de minha coleção de discos gaúchos.

segunda-feira, novembro 15, 2010

Quando o prestígio fala mais alto

Existem situações em que o prestígio fala mais alto do que qualquer fato ou manobra. Em 1978, numa época em que não existia Internet, o público de Porto Alegre foi surpreendido por uma inesperada manchete: morria o Papa João Paulo I, apenas um mês após sua nomeação. Mas somente o jornal Zero Hora trazia a informação. O horário em que a notícia chegou à redação permitiu ao veículo da RBS dar um verdadeiro furo de reportagem. Nenhum dos concorrentes fazia qualquer citação ao ocorrido.

Aí é que veio a reação do público: o Correio do Povo, na época ainda pertencente à família Caldas, tinha uma inabalável tradição de credibilidade. Se o carro-chefe da Caldas Júnior não veiculava a notícia, seria ela mesmo verdadeira? E, assim, a redação do velho Correio foi inundada de telefonemas pedindo confirmação. O Papa tinha morrido mesmo? Tinha. O Correio apenas não teve tempo de incluir a notícia em sua edição daquele dia. A Zero Hora podia ter dado o furo, mas o Correio teve sua reputação endossada. Enquanto o tradicional jornalzão em formato standard não confirmou o fato, os leitores ficaram em dúvida. Até hoje os jornalistas que trabalhavam no Correio nessa época lembram com orgulho desse episódio. A vitória deveria ter sido da ZH, mas o concorrente levou a melhor com a manifestação dos leitores.

Corta para 2010. Kleiton e Kledir são anunciados como o show de abertura para Paul McCartney no Beira-Rio. Em geral a escolha é bem recebida, mas alguns xiitas protestam. Sem perceber que o próprio Paul é um músico eclético que já gravou quatro CDs de música erudita, esses radicais afirmam que a dupla gaúcha não combina com um "show de rock". Logo outras vozes dissidentes se fazem ouvir, redigindo longas diatribes contra os irmãos Ramil. Em geral esses textos mostram desconhecimento da obra da dupla, calcando-se somente em argumentos estreitos e inflexíveis. "Eles serão vaiados", exageram uns e outros.

A apenas dois dias da grande noite, a decepção: a apresentação de Kleiton e Kledir é cancelada sob a alegação de "problemas técnicos". O que exatamente aconteceu ainda não se sabe. A primeira informação foi de que se tornou inviável montar um show de abertura sem prejudicar a logística da banda de Paul. Em suma, a produção não queria show de abertura. Os xiitas, é claro, regozijaram-se. Sentiram-se vitoriosos em suas manifestações preconceituosas e radicais. E tudo parecia conspirar a favor deles quando, pontualmente às 15 pras 8 da noite, teve início um show de abertura não anunciado com o DJ Pic Schmitz, o guitarrista Fred Mentz e o saxofonista Vinicius Neto, da banda Dublê. Ou seja: a desculpa de "não querer show de abertura" era furada. Kleiton e Kledir, que estavam com suas famílias no Beira-Rio para ver Paul, poderiam ficar numa situação constrangedora.

Mas não ficaram. Quem estava bem à frente, junto ao palco, ouviu uma pequena multidão gritando "Klei-ton e Kle-dir" na batida de "We Will Rock You", do Queen. Isso foi registrado pelo jornalista do Estadão e, para os descrentes, está devidamente comprovado no vídeo abaixo. O público deu o seu recado. A exemplo do que aconteceu com o Correio do Povo em 1978, o prestígio falou mais alto. Se alguém tentou puxar o tapete da dupla, a plateia não deixou. E os irmãos saíram engrandecidos, com a alma lavada, mesmo sem ter se apresentado.


sábado, novembro 13, 2010

Feira do Livro

Estou com o Iuri neste feriadão, então esta provavelmente vai ser a primeira Feira do Livro a que não compareço desde que comecei a frequentá-la, na infância. Já houve Feiras em que dei apenas uma passada rápida, mas nem aparecer por lá, esta vai ser a primeira. Não foi de propósito. Simplesmente eu me atrapalhei com os compromissos, preparativos para o show do Paul e tudo o mais. De qualquer forma, como já comentei várias vezes, a Feira já não é tão essencial para mim. Houve uma época em que só na Feira, praticamente, eu comprava livros. Depois, fui descobrindo as livrarias. Posteriormente, foi lançado no Brasil o cartão de crédito internacional e passei a fazer encomendas de livros importados por carta, a partir de anúncios em revistas estrangeiras. Por fim, chegou a Internet e mudou completamente a minha vida. Minha "Feira do Livro" agora é aqui. Sempre que vejo a capa de "1001 Livros Para Ler Antes de Morrer", penso comigo mesmo: são os que já estão na minha casa. Não fui à Feira, mas não deixei de comprar livros neste mês.

quinta-feira, novembro 11, 2010

A primeira música

Deixei meu gravador de DVD programado para registrar o que fosse ao ar na RBS TV (a Globo do Rio Grande do Sul) durante o show de Paul McCartney. Já vi que o Fantástico mostrou "Jet" como se tivesse sido "a primeira música" da noite. Essa foi na verdade a terceira. Paul abriu com um medley que começou com "Venus and Mars", emendou "Rockshow" e só então "Jet".

segunda-feira, novembro 08, 2010

A grande noite de Paul McCartney

Ontem foi o dia do histórico concerto de Paul McCartney em Porto Alegre. A produção havia anunciado que não haveria show de abertura, usando o pretexto de que, "por motivos técnicos", a apresentação de Kleiton e Kledir teve que ser cancelada. Pois qual não foi nossa surpresa quando, às 15 para as 8, ainda à luz do dia (horário de verão), entraram no palco o DJ Pic Schmitz, o guitarrista Fred Mentz e o saxofonista Vinicius Neto, da banda Dublê. Naquele momento, esfarrapou-se por completo a desculpa para o cancelamento do show da dupla gaúcha, que foi realmente uma atitude desleal e irresponsável. Ouviram-se algumas vaias ao final da apresentação dos três jovens e quem estava mais à frente escutou fãs chamando por Kleiton e Kledir. Isso foi confirmado em uma matéria do Estadão on-line.
Cansei, ué! Ainda na fila, do lado de fora, eu comprei uma almofadinha do Inter que caiu do céu! Sentei ali mesmo, em cima dos pedregulhos. Dentro do estádio, o gramado tinha uma cobertura relativamente confortável. Mas, com a minha idade e o meu peso, não é fácil ficar várias horas de pé. Na metade do show eu tirei meus tênis.
Antes do começo propriamente dito, os telões mostravam uma bela colagem de imagens alusivas à Liverpool dos anos 60, com muito Beatles, é claro (inclusive Pete Best), mas também citações a Searchers e Gerry and The Pacemakers. O vídeo corria de baixo para cima.

E chegou o grande momento! A parte musical não teve grandes surpresas para mim, pois tenho todos os DVDs oficiais de Paul McCartney. Mas claro que "estar lá" é muito melhor! Em alguns instantes, tive a impressão de que o ex-Beatle estava sendo orientado via ponto eletrônico. Por exemplo, ele falou a palavra "português" com forte sotaque, depois a repetiu com calma, corrigindo e enfatizando os fonemas que havia errado da primeira vez (mal sabe ele que em São Paulo e Rio a pronúncia é diferente do "porrrrrrtuguês" que ele fez questão de falar em gauchês perfeito).
O telão é uma bênção para quem fica longe do palco. Paul chega perto de todos.

Belas imagens eram mostradas também ao fundo do palco.
As velas durante a execução de "Let it Be".

O clímax do show: "Live and Let Die"...

...e as explosões e efeitos pirotécnicos.

Paul usou muito de gestos para superar a barreira do idioma. Como ele mesmo disse: "Vou tentar falar português, mas vou falar mais inglês."

Esta era a minha visão do palco.

domingo, novembro 07, 2010

Eu no Clicrbs

Já fazia tempo que eu vinha pensando em mandar para o Clicrbs a minha foto de infância ouvindo Beatles, para a seção "Paul e eu". Ontem, finalmente, enviei. Hoje pela manhã abri o site para saber as novidades sobre as andanças de Paul McCartney em Porto Alegre e tive a surpresa de encontrar minha imagem já na "capa". Sem dúvida é um momento histórico e, por que não dizer, profético da minha vida.

sábado, novembro 06, 2010

Encontro

Na foto acima estamos eu e o carioca Marcelo Fróes, que veio do Rio a Porto Alegre fazer adivinhem o quê. Eu e ele temos contato desde 1995, mas só nos falamos pessoalmente duas vezes. A outra foi em 1997 quando fui ao Rio para ver o show de David Bowie. Hoje foi minha vez de retribuir a visita no hotel. Marcelo foi meu padrinho no jornalismo musical quando era editor do International Magazine, do qual fui um dos mais constantes colaboradores. Depois ele se lançou como produtor de relançamentos e coletâneas em CD e atualmente possui o selo Discobertas, que realiza um belo trabalho, inclusive lançando artistas e gravações inéditas.
Marcelo hospedou-se no Sheraton, o mesmo hotel de Paul McCartney. Paul não apareceu, mas os músicos de sua banda circularam um bom tempo no saguão. Aqui os fãs na frente do hotel.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Vem de lá, MACCAnudo!

Aí estou eu, com cinco ou seis anos de idade, ouvindo Beatles. O compacto na "eletrola" é "I Want to Hold Your Hand", edição original da Odeon. O fato de eu ser filho temporão fez com que as músicas que meus irmãos ouviam na adolescência acabassem fazendo parte também da minha infância. E eu testemunhei a Beatlemania no Brasil. Lembro, por exemplo, da estreia do filme "Help!" nos cinemas de Porto Alegre. As garotas gritavam "Ringoooo". Os nomes dos Beatles eu aprendi quando a revista Intervalo publicou fotos individuais de cada um. George Harrison era chamado de "Jorge Árrisson", pronúncia que alguns fãs mais antigos ainda utilizam. No meu aniversário de cinco anos, ganhei o compacto "I Call Your Name"/"Long Tall Sally" de um tio meu.

A partir dos seis anos, troquei os discos de música pelos de histórias infantis. Lembro bem da minha vó dizendo: "agora ele está ouvindo os discos certos para a idade dele". E parei de acompanhar os Beatles. O máximo que lembro de ter feito foi assistir ao desenho animado "Submarino Amarelo" no Cinema Rex. Achei confuso demais para minha cabeça de infante e as músicas não me chamaram a atenção. Os Beatles tinham mudado. Eu, ainda não.

Até que, aos dez anos, fui à minha primeira "reunião dançante". Foi um momento decisivo. Ali a música entrou de volta na minha vida com toda a força e não saiu nunca mais. Mas só dois anos depois é que iniciei minha redescoberta dos Beatles. A Globo exibiu "Help!" quando a TV a cores ainda era novidade no Brasil (meu pai ainda não tinha, mas meu irmão, sim) e o LP voltou às paradas, sumindo das lojas. Aos poucos, com o dinheiro de minha mesada (e alguns presentes), fui começando minha coleção. A cada disco que eu comprava, ficava curioso para saber se reconheceria alguma música de minha infância. Curiosamente, de "Beatles '65", lembrei imediatamente de "I'll Follow The Sun", mas não das outras. É estranho que muitos clássicos dos Beatles eu só vim a conhecer a posteriori, embora tenha vivido a época.

Mesmo reconhecendo a grandiosidade de alguns trabalhos da "segunda fase" dos Beatles, em especial "Revolver" e "Sgt. Pepper's", ainda prefiro as músicas do começo. Por serem as da minha infância, claro, mas também porque foi com aqueles petardos simples e urgentes que esses quatro provincianos da Inglaterra vieram patrolando de Liverpool para o mundo. "I Want to Hold Your Hand" é a nascente de quase tudo o que aconteceu depois no rock, do punk ao heavy metal. Até então, rock era, acima de tudo, ritmo. A partir dos acordes iniciais que antecederam o "oh yeah I'll... tell you something", rock passou a ser força, energia, peso.

Os Beatles já estavam separados quando me tornei realmente Beatlemaníaco. Logo, era natural que eu me interessasse também pela carreira-solo de cada um deles. Até hoje, tenho um vínculo afetivo com os discos de John Lennon. Mas o compacto "My Love"/"The Mess", de Paul McCartney, foi marcante para mim. Logo depois um amigo da turma comprou o LP "Band on The Run" e assim nasceu a era de Paul McCartney e Wings. Mas, para os fãs brasileiros, houve uma injusta penalização.

Quando Paul estava para lançar o álbum "Venus and Mars", a imprensa brasileira informou que o disco talvez não saísse no Brasil. Motivo: o ex-Beatle estava pedindo um dólar a mais por cada cópia vendida em nosso território. Em efeito cascata, isso dobrava o preço do disco. No fim, não só "Venus and Mars" mas todos os LPs de Paul, lançados antes ou depois, passaram a custar duas vezes o preço de um disco normal. Imaginem a pequena fortuna que os fãs brasileiros tiveram que desembolsar pelo triplo "Wings Over America". O dinheiro da minha mesada não podia ser desperdiçado assim. Às vezes eu arriscava perguntar o preço de um disco de Paul em lojas menos destacadas do centro de Porto Alegre. Se a resposta fosse o valor normal, eu aproveitava para comprar. Mas só deu certo duas vezes: com "London Town" e a coletânea "Wings Greatest".

O surgimento do CD zerou o placar e recomecei minhas coleções. Agora, sim, Paul McCartney entrou para ficar no meu acervo. Também o mercado de vídeo trouxe para perto os shows que ele fazia pelo mundo. Desde a turnê "Flowers in The Dirt", em 1989, Paul passou a incluir farto material de Beatles em seus shows. E, embora os shows dos Beatles tenham valor histórico inestimável (feliz de quem pôde vê-los), uma apresentação solo de Paul supera a ex-banda em qualidade musical. A produção é sofisticada, a duração é cerca de três horas (mal comparando, os Beatles tocavam 25 minutos) e inclui as canções da fase sofisticada dos anos 60, que o antigo grupo não chegou a apresentar ao vivo. Enfim, hoje, Paul McCartney é os Beatles, herdeiro legítimo do legado musical do conjunto.

No domingo, Porto Alegre viverá um dia histórico, como a passagem do Graf Zeppelin, a enchente de 41 e a chegada do Papa. E aquele garotinho da foto aí de cima estará lá para testemunhar. Vem de lá, MACCAnudo!

Abertura do show de Paul cancelada

Fui informado por uma visitante do Blog que Kleiton e Kledir não irão mais abrir para Paul McCartney em Porto Alegre. Confirmei agora mesmo pela Rádio Gaúcha. Não haverá show de abertura na capital gaúcha.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Água para Elvis

Viram a entrevista de Paul McCartney para Zeca Camargo? Um trecho que me chamou a atenção foi aquele em que Paul comenta que não bebe um só gole d'água em suas três horas de show. E depois exemplifica: "Imagine Elvis cantando (imita o vozeirão do Rei do Rock) e interrompendo (finge pegar um copo e beber)..."

Paul com certeza nunca escutou o LP "Having Fun With Elvis on Stage", de 1974. Esse é talvez o mais absurdo disco já lançado na história do rock. Ele não contém música, somente papos de Elvis com a plateia entre uma canção e outra. Hoje é comum saírem discos de "palavra falada" por gravadoras obscuras tentando faturar com a fama do artista, mas esse foi um produto legítimo e autorizado da RCA. Lembro de ter lido em uma crítica da Rolling Stone americana que a gravação incluía abobrinhas e "centenas de pedidos de copos de água". Exageros à parte, dei uma escutada rápida no lado A (achei na Internet) e há, sim, um momento em que Elvis se desculpa: "Preciso beber muita água, pois é muito seco aqui em cima." Paul deveria ouvir esse disco inteirinho, nem que fosse por penitência. Mas acho que não aguentaria. Iria pedir água antes.


(Imaginem se Paul chegasse a se apresentar na secura de Brasília, como se especulava no início do ano. Lá ele não iria aguentar três horas de show sem molhar o bico. Ou desmaiaria no palco.)

Sem noção

Querem saber qual é o tópico mais visitado deste Blog? É este aqui. Não é apenas o mais acessado, mas também o mais copiado. Escrevi de brincadeira, como uma pegadinha. Mas acho que fui sutil demais. Ninguém captou. Ou, se captou, guardou para si. Leiam bem, prestem atenção nas expressões, e vejam se quem o usa como exemplo não cai em total contradição. Nunca tive coragem de revelar que era uma gozação, pois já recebi até elogios pelo texto. Mas de vez em quando aparecem críticas. Como esta, por exemplo:

simplesmente nao gostei nao tem nada do que eu procuro podia melhorar um pouquinho em meu filho ta muito com cara de velho sou jovem acha que gosto de melancolia e ficar fazendo declaraçoes de amor pra amigos vai toma no...

Escrevendo desse jeito, sem acentos ou pontuação, não admira que precise da Internet para pensar por ele. Mas, além de semi-analfabeto, é mais um que não entendeu. Paciência. Como eu digo na apresentação, este Blog não é recomendado para quem não capta ironias.

Dilma

Com a eleição de Dilma, acho que cabe republicar um antigo comentário que escrevi por ocasião de um dos Dias Internacionais da Mulher.

Há muitos anos, num debate sobre música, Nélson Coelho de Castro comentou que não concordava com a ideia de que o músico tem que "conquistar seu espaço". Segundo ele, tinha que "tomar o poder, mesmo". Pensando bem, ele está certo. Esse negócio de "conquistar espaço" parece concessão ou paternalismo. Como se alguém traçasse uma área no chão e dissesse: "Este é o seu espaço. Parabéns por conquistá-lo. Faça bom proveito dele. E não ponha o pé fora da risca!"

Pois esse, por muito tempo, foi o discurso em relação às mulheres. Que elas estavam "conquistando seu espaço". Até aí, tudo bem. O problema foi quando elas começaram a colocar o pé fora da risca. Deu no que deu: estão tomando o poder!