sexta-feira, junho 14, 2013

Livro de Peter Criss sai no Brasil

A editora Lafonte está lançando no Brasil a autobiografia de Peter Criss, o baterista original do Kiss. Como seria difícil recriar o trocadilho em português, mantiveram o título original: "Makeup to Breakup" (uma inversão da expressão "break up to make up", brigar para fazer as pazes, sendo que "make up", como vocês devem saber, também significa "maquiagem"). Li o texto em inglês, na época do lançamento, de forma que não posso comentar a tradução. O que posso dizer é que é um livro obrigatório para fãs do grupo e do músico. Bem mais apimentada do que as autobiografias de Gene Simmons e Ace Frehley, a obra lava a roupa suja em público, resultando naquilo que se chama em inglês de "guilty pleasure" - um "prazer culpado" por nos deliciarmos com tanta fofoca. 

Peter e Ace eram considerados os "bad boys" do Kiss por serem os dois integrantes que abusavam de drogas e outros excessos. É curioso ler o relato do baterista de que Gene Simmons era sem graça como companheiro de quarto porque não era parceiro na cocaína e ficava a noite toda apenas transando com alguma fã. Realmente, que tédio deve ser passar as noites fazendo sexo em vez de se drogar! Uma passagem que me fez rir em voz alta foi quando Peter lembrou o que Gene comentou no livro dele, que imaginou que o pó que o produtor Bob Ezrin tinha em sua mesa fosse adoçante. Aí ele completa: "E ele pensou que a gilete fosse para mexer e o espelho para a pessoa se admirar?"

O lance de Peter com as drogas realmente fugiu de controle. Como o dinheiro não vinha tão depressa quanto ele gostaria, no auge da banda ele traficou cocaína para sustentar o vício. Sua primeira esposa Lydia misturava o pó com laxante infantil para fazer render e a mistura era vendida à equipe da turnê. Na maioria das vezes em que comenta os erros que cometeu, o baterista insinua que Gene e Paul fizeram por merecer as atitudes dele. Ou que a reação irritada dos companheiros era exagerada. Ele chega a dar a entender que é normal para astros de rock destruir carros e quartos de hotel. Mas confessa que ficou esgotadíssimo na excursão europeia e implorou a Paul Stanley que cancelasse os demais shows, no que foi atendido.

Claro que a parte musical também é abordada. Sobre "Beth", música de sua autoria que se tornou um sucesso inesperado, ele lembra o incentivo de Bob Ezrin: "É um tema universal, a pessoa que gostaria de estar em casa e não pode, todos vão se identificar, médicos, executivos..." Por outro lado, é estranho que ele critique "I Was Made For Loving You", de Paul Stanley, por ser em estilo discotheque, pois no mesmo álbum (Dynasty) há também "Dirty Livin'", do próprio Peter, em gênero idêntico. Outro depoimento questionável é quando ele afirma ter sido duro no confronto com o falso Peter Criss no programa de TV Donahue. Essa "acareação" com o impostor chegou a ser disponibilizada na íntegra no YouTube (embora tenha sido removida) e, pelo que se viu, o tom de Peter foi o tempo todo amistoso e sem ressentimentos.

Sobre a maquiagem, ele lembra a bizarra situação de ser famoso, mas não reconhecido. Em uma boate de Nova York, ele tentou conseguir uma mesa dizendo: "Eu sou Peter Criss do Kiss!" E o garçom respondeu: "Ah, sim, e eu sou Mick Jagger". Como se sabe, Peter foi o primeiro da formação original a sair do Kiss. Considerando seu comportamento instável, hoje ninguém mais critica a decisão de Gene e Paul em afastá-lo. Mas ele ainda tenta se justificar com um discurso típico dos rejeitados, alegando ter sido tirado justo quando estava tentando melhorar como músico.

Em suas memórias, Peter oscila entre vítima e réu confesso. Na maior parte das afirmações ele se considera injustiçado, mas de vez em quando deixa escapar um "mea culpa", dizendo que a cocaína interferia com o seu bom senso e ele acabava fazendo bobagens. Então fica um zigue-zague entre ele se achando um gênio incompreendido e, quando menos se espera, reconhecendo que errou. Ele chegou a se internar e, quando recebeu a visita dos pais, eles puseram toda a culpa na segunda esposa dele: "Eu falei pra você não casar com ela, que ela só iria lhe trazer aborrecimentos..." Como se ela fosse a única responsável.

No final ele acaba estendendo as mágoas também ao até então fiel Ace Frehley, que ele diz tê-lo traído na volta da formação clássica com maquiagem, ocultando o quanto estava recebendo para tocar. Peter narra também o seu drama com o câncer de mama, mais raro em homens, mas que acabou por atingi-lo. É impossível sintetizar o livro todo, mas estejam certos de que será uma leitura bem interessante para fãs. Repetindo, não sei como está a tradução, mas pelo conteúdo em si, é um livro mais do que recomendado para quem aprecia autobiografias de músicos de rock.

Para ler meu comentário sobre a autobiografia de Paul Stanley, clique aqui.