sábado, abril 18, 2015

Feitiço no tempo

Fui almoçar cedo com meu filho, hoje, pouco depois das 11 horas. A seguir ele ouviu música, logo após aceitou que eu assistisse a um pouco de vídeo. Dali a pouco, já queria passear de novo. Verifiquei que fazia apenas uma hora que tínhamos feito a refeição. Era cedo para sair, embora a sensação fosse de que tivesse passado mais tempo. Afinal, consegui ver um episódio inteiro do "Batman" e trechos de outro. Mas, por incrível que pareça, apenas uma hora havia transcorrido. Até que me dei conta de que já devia fazer alguns minutos que os ponteiros marcavam meio-dia e vinte. Simples: o relógio estava parado. Será que isso quer dizer alguma coisa? Acho que sim: significa que gastou a pilha. Ela nunca foi trocada desde o final de 2010, quando ganhei o meu Technos de presente. 

Na minha infância, só existiam basicamente dois tipos de relógio: a corda e automático. Tive ambos. O automático era do meu pai e ele me deu (o correto, no caso, seria "ele mo deu", mas é horrível!). Como todos os modelos com essa característica, a corda era dada pelo movimento do pulso. Certa vez Robin, em uma aventura solo (sem Batman), desvendou um crime ao verificar que o relógio automático continuava funcionando no pulso da vítima de assassinato, o que significava que o corpo havia sido movido recentemente. 

Os primeiros relógios digitais funcionavam com um disco girando internamente e os números aparecendo em um visor. Eu os achava bem vistosos. Tive um de marca Josmar. Algum tempo depois, um japonês dono de um restaurante ao lado do Clube do Comércio chegou para o meu pai e disse: "Um plesentinho plo doutol..." Era um relógio todo preto que mostrava a hora quando se pressionava um botão, com números iluminados, semelhante ao antigo placar do Beira-Rio. Devia custar uma fortuna. Já os digitais de cristal líquido eu conheci com meu irmão João Carlos. Meu irmão mais velho, Júlio César, tinha um relógio que escurecia e clareava de 15 em 15 segundos, alternadamente mostrando e escondendo o antigo símbolo da Rede Globo (aquele dos "fusos horários").

Aos 20 e poucos anos, no começo da década de 80, passei a usar os digitais da Casio com cronômetro. Havia uma razão para isso: eu corria e gostava de marcar os tempos. Mesmo quando fui abandonando o exercício aos poucos, mantive o hábito de usar os mesmos tipos de relógio. No início eles até caiam bem, mas foram ficando comuns após alguns anos. Até que, no Natal de 2010, ganhei um modelo tradicional de ponteiros, como um incentivo para modernizar meu visual e adereços gerais.

Certa vez li em uma agenda que o relógio de pulso teria sido inventado por Santos-Dumont. Mas não foi bem assim. Na verdade, o inventor brasileiro pediu ao joalheiro Louis Cartier que encontrasse uma alternativa para os incômodos relógios de bolso, que não eram práticos em voos de balão. E assim surgiu um dos primeiros modelos masculinos de relógio de pulso, ainda hoje fabricado e vendido por uma fortuna com o nome de Cartier Santos-Dumont. (Os americanos provavelmente diriam que os brasileiros têm mania de atribuir a Santos-Dumont qualquer invenção. O fato é que entusiastas e estudiosos de aviação do mundo inteiro, inclusive dos Estados Unidos, o reconhecem como criador do primeiro aeroplano capaz de decolar por seus próprios meios. E eu nunca vi nenhum aeroporto comercial usando a catapulta dos Irmãos Wright.)

Enfim, vamos trocar a pilha do relógio. Como dizia Cazuza, o tempo não para. Mas eu ainda prefiro os versos de meu amigo Luiz Bonow: "Como não há de ter pressa / em tacar a bola preta / se o tempo não recomeça / ao virar da ampulheta".

2 Comments:

Blogger José Elesbán said...

Tá aí. Uma crônica a partir da falta de pilha no relógio.

10:21 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

É bem isso, zealfredo! A pilha já está trocada.

5:45 AM  

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