quarta-feira, maio 27, 2015

Apelos sem resultados

Os depoimentos que estão sendo colhidos no caso do menino Bernardo, cuja madrasta é acusada de tê-lo assassinado, trazem novamente à baila as polêmicas sobre o assunto. E uma tecla em que todos batem desde o início é: por que os pedidos de socorro do garoto não surtiram efeito? Ele procurou ajuda no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Três Passos. Os procedimentos que se desencadearam a partir daí culminaram com o pai pedindo ao Juiz uma chance de se reaproximar com o filho. E foi atendido.

Falhas houve, sem dúvida. Segundo notícia publicada no Uol, "a rede de proteção infantil deveria observar a família e reportar à promotoria, o que não aconteceu". Mas especificamente quanto à oportunidade concedida pelo magistrado, não vejo como uma decisão condenável. O que choca a todos é a possibilidade que hoje se detecta de que o crime fosse evitado. Mas eu lembro bem como é difícil para um infante, ou mesmo um adolescente, ser levado a sério. Ainda mais contra a palavra de um adulto que é o seu próprio pai.

Ouvi a gravação do progenitor falando com o Juiz. Foi disponibilizada nos sites de notícias. Sua voz tranquila e persuasiva convenceria qualquer um de suas boas intenções. É preciso sempre ter em mente que esse diálogo aconteceu antes do delito, quando ninguém seria capaz de prever a que ponto a situação chegaria. Temiam-se, talvez, maus tratos, desamor, omissão paterna, mas quem poderia pensar em morte? Assim, o Juiz concluiu: "Nesse caso, como não houve violência, por tratar-se de questão afetiva, nós apostamos na preservação dos laços familiares."


Eu poderia escrever páginas e páginas sobre momentos de minha infância e adolescência em que não fui levado a sério. Felizmente, nenhum deles envolvendo nada tão grave que pudesse resultar em crime. Mas eu sei bem o que é dar um alerta e não ter eco. Por isso, não condeno as autoridades pelo que poderiam ter feito. Elas procuraram agir com bom senso. Não foram totalmente omissas, mas deixaram de perceber a real severidade do caso. O pobre Bernardo, com apenas 11 anos, teve seus apelos de criança facilmente desacreditados pela lábia do pai. Agora, só se pode esperar que se faça justiça.