segunda-feira, agosto 17, 2015

A grande minoria

Há quem questione a validade da expressão “grande maioria”. No entanto, se formos analisar, ela não é redundante, nem contraditória. Porque, se examinarmos o resultado da eleição para Presidente no ano passado, veremos que Aécio Neves teve, no segundo turno, os votos de uma grande minoria. Ou seja: 48% dos eleitores. Ainda assim, é uma minoria. Dilma Rousseff foi legitimamente eleita.

Mas uma grande minoria, se quiser, pode fazer muito barulho. E está fazendo. Foi o que se observou ontem, na segunda manifestação de protesto contra o Governo Dilma. Como já comentei aqui, dois amigos meus do Facebook me tranquilizaram, dizendo que não é intenção dos manifestantes descartar a conquista das eleições diretas. Mas a unidade de argumentos para por aí. Um afirma que o objetivo é apenas expressar descontentamento. Já o outro fala em impeachment, lembrando que é um instituto perfeitamente legal, previsto na Constituição.

Afinal, qual o verdadeiro propósito de quem saiu às ruas? Observando-se as fotos divulgadas, encontra-se de tudo. Alguns realmente baixaram o nível, perdendo a noção de limite em seu ódio pela Presidente. Como o cartaz que mandava Dilma escolher entre “Jânio ou Getúlio”. Ou outro lamentando que ela tivesse sobrevivido às torturas e às barbáries do regime de exceção. Uma das faixas exibidas pedia intervenção militar, mas acrescentava: “O povo é soberano.” Ora! Se o povo é soberano – e, numa democracia, de fato é – não se deveria acatar o resultado da eleição? Mas a grande minoria não parece aceitar.

Em 1992, os brasileiros descobriram que existia impeachment. E os “caras pintadas” que protestaram contra Fernando Collor acabaram criando uma falsa ideia: a de que é fácil tirar um Presidente. Basta pintar o rosto de verde e amarelo e sair por aí fazendo passeata com euforia carnavalesca, que ele cai. E não funciona assim. Existe uma série de pré-requisitos para que um impeachment seja votado e, por fim, aprovado. Considerando os aspectos políticos que pesam nessa questão, talvez a voz da grande minoria possa ter lá sua influência. Mas não garante nada.

Digamos que não se concretize o impeachment de Dilma Rousseff que muitos pedem. Qual será a reação da grande minoria? Entenderá que a atitude certa é começar a pensar na próxima eleição (o que, convenhamos, já deveria estar fazendo)? Ou continuará exercendo pressão para virar a mesa, correndo o risco de derrubar junto toda a instituição democrática? Acho que é preciso maturidade para não brincar com assunto sério. Lembro quando, no começo da década de 80, eu lia e ouvia a frase que era o lema da campanha das diretas. Para mim, ela não perdeu a validade. No caso, a frase era: “Eu quero votar para Presidente”.

2 Comments:

Blogger José Elesbán said...

Pois é, Emílio.
Infelizmente teve gente pedindo "intervenção militar", e coisas afins, e parece que nem eram tão poucos assim.
Sobre "Eu quero votar para presidente", muita gente de agora nem era nascido ainda (lá se vão 31 anos da emenda Dante de Oliveira), e possivelmente pensa que foi fácil restabelecer as eleições diretas para presidente.

11:12 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

De que adiantam eleições diretas se o eleitor não sabe ser voto vencido? Não aceita o resultado da eleição? Não tem problema nenhum em não gostar da Dilma ou do PT. É exatamente porque nem todos gostam do mesmo candidato ou do mesmo partido que existem as eleições. Mas o resultado das urnas tem que ser acatado. E, embora alguns afirmem que estavam apenas expressando seu descontentamento, o que se viu foi muito pior do que isso. A tônica da manifestação foi: "odeio o PT e quero que a Dilma saia de qualquer maneira". É um mau momento para o país.

8:07 AM  

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