sexta-feira, junho 17, 2016

Paul McCartney: mais uma biografia de referência

O inglês Philip Norman é um renomado biógrafo de músicos famosos. Escreveu obras de fôlego sobre, entre outros, Beatles, Rolling Stones e Elton John. Seu extenso volume sobre John Lennon, publicado em 2008, tornou-se uma nova referência sobre a vida do ex-Beatle. Pois desta vez ele arregaçou as mangas e produziu um trabalho de porte semelhante sobre o parceiro Paul McCartney. O audiobook muito bem narrado por Jonathan Keeble totaliza 30 horas de audição.

O que causa surpresa é que Paul se mostrou simpático à proposta de Norman de contar sua história, embora não seja uma biografia "autorizada" no sentido clássico do termo. Em 1981, o autor publicou "Shout!", sobre a carreira dos Beatles, e pegou pesado com o baixista. Desde então, vigora a ideia de que existiria uma certa antipatia entre eles. Se de fato havia essa animosidade, parece ter sido superada.

A narrativa presume que o leitor já conhece de antemão os fatos marcantes da trajetória de Paul McCartney. Logo, inexiste a preocupação de "não estragar surpresas" (ou, usando o termo estrangeiro tão em voga, não se evitam "spoilers"). Assim, sempre que a maconha entra em cena, o texto faz referência ao revés que Paul enfrentaria em 1980 no Japão. Quando Heather Mills surge na vida do músico, o autor apresenta informações sobre ela, citando que algumas foram colhidas do processo de divórcio.

O que este livro teria para contar que já não se saiba? Philip Norman aprofunda a análise da relação de Paul com seus familiares: o pai, o irmão, os filhos e as esposas. Fica-se sabendo, por exemplo, que a filha mais velha de Linda, a primeira Heather na vida de Paul, voltou a ter contato com o pai biológico, Joseph Melville See, chegando a residir por dois anos na mesma cidade que ele, Tucson, Arizona (o que leva muitos a supor que ele seja o "Jo Jo" da letra de "Get Back"). Na época do lançamento de "Anthology", em 1995, o telefonema ao ex-baterista Pete Best para lhe informar do dinheiro que receberia por sua participação em algumas faixas teria sido dado pelo próprio Paul. 

A carreira turbulenta e cheia de guinadas de Paul garante uma leitura (ou, no meu caso, audição) cativante e nada monótona. Os Beatles, o boato de que Paul estaria morto, o casamento com Linda, o sucesso dos Wings, a prisão no Japão, a conturbada relação com Heather Mills, tudo isso é contado numa escrita saborosa e farta em informações. Ao final, Philip Norman explica em que termos Paul concordou com a biografia e como isso facilitou o acesso às fontes mais próximas ao personagem principal. Agora é aguardar e torcer por uma edição traduzida para o português. (P.S.: Edição em português pela Companhia das Letras anunciada para junho de 2017.)