quinta-feira, agosto 11, 2016

Audiobook revela mentirinha

Estou ouvindo o audiobook "My Bass and Other Animals", de Guy Pratt, mais conhecido como o músico que assumiu o baixo nos shows do Pink Floyd com a saída de Roger Waters. Também seguiu acompanhando David Gilmour em sua carreira solo e esteve em Porto Alegre com o guitarrista para o show de 16 de dezembro do ano passado na Arena do Grêmio. É o próprio Pratt quem faz a narração, com sua dicção rápida mas clara, apesar do forte sotaque britânico. Entre muitas historinhas de bastidores, aviões e hotéis, ele conta do dia em que arrumou sua mala com antecedência, certificando-se de verificar em todos os cantos do quarto para ver se não tinha esquecido nada. Só muito depois que sua bagagem tinha sido levada pelo camareiro é que percebeu que não havia separado a roupa que iria vestir! A solução foi descer ao saguão do hotel de roupão mesmo e comprar uma camiseta, uma bermuda e um par de tênis.

De repente, de forma inesperada, ele diz que tem algo especial para quem está ouvindo o audiobook: ele confessa que esse episódio não ocorreu com ele, mas com o guitarrista Mick Ralphs, do Mott the Hoople e do Bad Company. Foi o próprio Ralphs quem lhe contou. Pratt achou interessante incluir o relato em seu livro e diz mais: quando saiu a primeira edição, muitos colegas da turnê do Pink Floyd disseram lembrar desse fato. Mas, como ele mesmo admite, "nunca aconteceu".  Já conferi a edição Kindle, que comprei em pacote casado com o audiobook, e de fato a mentirinha está lá, incólume.

Por que Pratt decidiu contar a verdade a seus "ouvintes"? Terá sido uma decisão de última hora, ao microfone? Essa curiosa revelação me fez questionar a veracidade de vários testemunhos contidos no livro. Mas não só isso: quantas obras supostamente de "não-ficção" conterão invenções em suas páginas? Angie Bowie, primeira esposa de David, publicou duas autobiografias. Em cada uma delas, perdeu a virgindade num local diferente. Kevin Mitnick, em dois de seus livros, conta como conseguiu entrar em uma empresa à noite fazendo-se passar por empregado, mas os detalhes não fecham de um relato para outro. Quase como se a história tivesse se repetido com pequenas alterações, o que não acredito ser o caso. Quem é o responsável por "enfeitar" ou mudar os acontecimentos? O protagonista ou o redator final? Moral da história: não acredite em tudo o que lê.