segunda-feira, setembro 26, 2016

Os 80 anos de Luis Fernando Verissimo

Era época de Feira do Livro em Porto Alegre no ano de 1973, então presumo que tenha sido em novembro. No mês seguinte eu completaria 13 anos. A família estava reunida na mesa da cozinha. Meu irmão João Carlos pegou o livro "O Popular", o primeiro de Luis Fernando Verissimo, que alguém (creio ter sido minha irmã Beatriz) tinha comprado, e comentou: "Este, sim, é O livro!" Meu (hoje ex) cunhado Newton complementou dizendo ter lido numa crítica de jornal que, a partir daquele momento, a literatura seria "antes e depois" de "O Popular". Meu irmão acrescentou: "E da Editora José Olympio, hein?"

Essa conversa familiar ficou gravada em minha memória. Depois disso, em algumas das muitas vezes que estive na casa de minha irmã, dei uma espiada nos livros dela. E, além de "O Popular", folheei também "A Grande Mulher Nua", de Verissimo. E aos poucos fui descobrindo aquele estilo de humor inteligente, sagaz, divertido. Impressionava-me também que Verissimo desenhava - e muito bem. Seu traço era (e é) econômico, mas preciso, certeiro e harmônico. Dois dons tão especiais numa mesma pessoa. Até que, em 1978, comprei "O Rei do Rock", numa edição de bolso vendida em banca de revistas. Não, não foi por engano. Eu sabia que era um livro de crônicas. E até hoje é um de meus preferidos. Só muito tempo depois vim a saber que Verissimo tinha influência de autores americanos, como Woody Allen e Art Buchwald, em razão do tempo de juventude em que morou nos Estados Unidos. Quando ele estourou em 1981 com "O Analista de Bagé", eu já me considerava um velho fã. 

Verissimo também escreveu para programas humorísticos da Globo, mas não se sabe exatamente quais quadros foram criados por ele, exceto por aqueles que eventualmente citou em seus textos, como o "ah é, é?" O bordão "me tira o tubo", de um personagem de Jô Soares, lembra muito um conto dele sobre um sujeito que entrou em coma antes da partida Brasil-Uruguai da Copa de 50. Quando finalmente acordou, anos depois, todos ficaram com medo de lhe contar o resultado. Por fim, lembro especificamente de um capítulo da série "As Aventuras de Mario Fofoca" que era de autoria de Verissimo. A história incluía um Buda de borracha que dava azar - era o "Buda mole".

Na era da Internet, Luis Fernando Verissimo acabou sendo vítima de um fenômeno incontrolável, que é a disseminação de textos com autorias incorretamente atribuídas. Pode-se dizer que, das mensagens que circulam furiosamente com assinatura de Verissimo, nenhuma é dele. E, no entanto, o nome dele já apareceu até numa coletânea lançada na França, embora a verdadeira autora da crônica fosse uma então estudante de Medicina de Florianópolis. 

Como figura lúcida, culta e brilhante que é, tendo vivenciado de perto o período da ditadura (e se atrevido a questioná-la em seus tempos de Folha da Manhã, como já registrei aqui, chegando inclusive a ser fichado no SNI), Luis Fernando Verissimo se posicionou radicalmente contra o afastamento da Presidente Dilma Rousseff. Tentou dar um grito de alerta, mas não foi entendido. É uma pena que o mal que ele não queria que ocorresse (e foi um mal, sim, a história não deixará dúvidas quanto a isso) tenha se concretizado justamente no ano em que ele completa 80 anos. Hoje é o aniversário dele. Parabéns, Luis Fernando Verissimo! Obrigado por tudo! Que Deus (em quem você não acredita, mas eu sim) lhe dê ainda muita saúde para continuar escrevendo com o brilhantismo com que só você consegue!

1 Comments:

Blogger José Elesbán said...

Parabéns para ele.

1:05 PM  

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