domingo, agosto 20, 2017

Jerry Lewis

Não é meu objetivo transformar este Blog numa página de obituários. Ocorre que, como tenho 56 anos e meus ídolos de juventude são todos mais velhos (alguns, bem mais), a hora deles vai chegando aos pouquinhos. Em junho, lamentei a partida de Adam West, talvez meu primeiro ídolo da TV. Pois hoje quem faleceu foi meu primeiro ídolo do cinema, Jerry Lewis. (A propósito, espero que esteja tudo bem com Rita Pavone.)

Foi minha mãe quem fez minha cabeça para que eu viesse a gostar desse lendário comediante. Acho que foi em 1966 que fui pela primeira vez ao cinema, na praia de Arroio do Sal. Mas parecia ser um filme de guerra e eu não quis ficar até o fim. Já em Porto Alegre, a Dona Irene recomendou que eu fosse ver "Bancando Ama Seca", no Cine Victória. Não lembro de ter prestado muita atenção no enredo, embora já conseguisse ler as legendas. Talvez fosse justamente este um dos grandes trunfos de Jerry Lewis: crianças se divertiam só de vê-lo na tela, em cenas isoladas, com suas caretas e palhaçadas. Virei fã na hora. Logo em seguida houve um "Festival Jerry Lewis" no Cine Cacique e eu só perdi um filme. Tenho uma vaga lembrança de ter visto "O Rei do Laço" e "O Meninão", ambos da fase em dupla com Dean Martin.

Depois disso, sempre que algum cinema de Porto Alegre passasse algum filme de Jerry Lewis, lá ia eu assistir. "Errado pra Cachorro". "O Bagunceiro Arrumadinho". "O Professor Aloprado". "Uma Família Fuleira".  "Um Biruta em Órbita". "De Caniço e Samburá". Alguns, vi mais de uma vez, em reprises. Lembro que pedi para ir ao banheiro no Cine São João e a Celina, a empregada que ficou mais de 40 anos com minha mãe, me levou. Na saída, uma faxineira do cinema me perguntou se eu estava gostando das "trapalhadas do Jérri Lévi". Quando eu corrigi a pronúncia, ela ficou impressionada de um menino de 7 anos ter esse conhecimento. Outra recordação foi que minha mãe não me deixou ver "Boeing Boeing" sob a alegação de que não era uma comédia. Não assisti até hoje, mas, pelo que li, é um filme de humor, sim, mas com uma temática adulta. 

Em minha adolescência, nos anos 70, passei a gostar mais de música. E, mesmo para cinema, minha predileção mudou para outros tipos de filme que não os de Jerry Lewis. Hoje sou muito mais fã do filho dele, Gary Lewis, que gravou ótimos discos nos anos 60. Mas lembro que a Globo passava um filme de Jerry a cada tarde de domingo. Muito tempo depois, já na era do videocassete, vim a saber que ele não era muito bem aceito pela crítica americana. Era mais respeitado, por exemplo, na França. E acho que poderíamos incluir o Brasil, também.

Um vídeo de Jerry Lewis viralizou recentemente: a entrevista que ele concedeu ao programa "The Hollywood Reporter", postada em dezembro de 2016. Suas respostas monossilábicas, antipáticas e de má vontade deixaram claro que o entrevistador não conseguiria obter nenhuma informação significativa (vejam aqui). Mesmo assim, a gravação durou sete tensos minutos.

Jerry Lewis faleceu hoje, aos 91 anos. Por décadas, divulgou-se que o verdadeiro nome dele era Joseph Levitch. Talvez fosse chamado assim na família. Mas, segundo pesquisa do biógrafo Shawn Levy, autor de "Jerry Lewis, King of Comedy", ele foi registrado como Jerome Levitch, o que explica o Jerry. O livro em questão teve sua primeira edição em 1997. Mas, antes disso, em 1988, o brasileiro Luiz Carlos Peres Cascaldi já havia publicado uma excelente filmografia comentada justamente com o título de "Jerry Lewis, o Rei da Comédia". Vale a pena procurar nos sebos, mas melhor ainda seria se uma editora bancasse uma republicação atualizada, já que o original foi composto em máquina de escrever IBM. Mesmo assim, inclui cartazes dos lançamentos dos filmes no Brasil e outras informações preciosas.