segunda-feira, março 19, 2018

Steve Hackett vem aí

Steve Hackett e sua banda se apresentarão amanhã, dia 20, no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre. É o primeiro de uma série de shows da turnê brasileira. Mas voltemos um pouco no tempo.

Em 1970, a banda inglesa Genesis anunciou no jornal de música Melody Maker que precisava de um baterista e um guitarrista. Dois ex-integrantes do Flaming Youth, Phil Collins e Ronnie Caryl, candidataram-se às vagas respectivas. Somente Phil passou no teste e, como se sabe, viria a se tornar o cantor do grupo com a saída de Peter Gabriel em 1975. Mas Ronnie voltaria a tocar com Phil na carreira solo deste, inclusive tendo vindo com ele a Porto Alegre no dia 27 de fevereiro (ver aqui). 
Formação clássica do Genesis: Peter Gabriel, Tony Banks, Phil Collins, Steve Hackett e Mike Rutherford

Quem acabou assumindo a guitarra foi Steve Hackett. E assim surgiu a formação clássica do Genesis, que viria a gravar os antológicos álbuns Nursery Crime, Foxtrot, Selling England by the Pound  e The Lamb Lies Down on Broadway. Já sem Peter Gabriel, com Phil Collins no vocal, vieram A Trick of the Tail e Wind and Wuthering. Foi nessa fase posterior que o grupo se apresentou em Porto Alegre em 1977 (ver aqui).

Ao entrar para o Genesis, Steve encontrou um time de compositores já consolidado, no caso, Peter Gabriel, Tony Banks e Mike Rutherford. Aos poucos, o guitarrista começou a descobrir seu talento para elaborar melodias e arranjos e, naturalmente, quis mais espaço para suas contribuições. Mas, com tantos músicos participando ativamente, Steve tinha que aceitar o seu quinhão no processo criativo.

Para dar vazão às suas ideias nem sempre aproveitadas no grupo, Steve lançou um disco solo em 1975, Voyage of the Acolyte. Bem recebido pela crítica e pelos fãs, o LP lhe deu o gostinho de trabalhar com total liberdade, "comandando o espetáculo" no estúdio. Foi aí que o músico começou a amadurecer a ideia de deixar o Genesis, o que só faria no final de 1977. Em 1976, um ano antes da turnê brasileira, ele e Mike Rutherford vieram ao Brasil. Numa entrevista para a jornalista Ana Maria Bahiana, publicada em Rock, a História e a Glória, Mike pediu à moça que "desse uma força" para a carreira solo de Steve. "Hum... Muito estranho, Mr. Rutherford", ela escreveu. 
Como artista solo, Steve conquistou a autonomia que tanto desejava. Trouxe seu irmão mais moço John para tocar flauta profissionalmente com ele, depois de anos fazendo música juntos informalmente, em casa. A princípio trabalhando com vocalistas convidados, o guitarrista foi aprendendo a usar também sua voz. Ele canta sozinho em várias gravações de sua obra.
Em 1983, Ritchie, o cantor inglês radicado no Brasil, lançou seu primeiro LP, Voo de Coração (aquele do "Menina Veneno"). Steve tocou guitarra na faixa-título e, em 1999, reaproveitaria o arranjo em sua "Jane Austen's Door", do álbum Darktown. Mas, em meados dos anos 80, os discos e shows de Steve Hackett já não geravam o mesmo entusiasmo. Para tentar revitalizar sua carreira, ele se uniu ao xará Steve Howe, do Yes, para formar o GTR, com um som mais pop, em sintonia com a década. O projeto foi bem aceito, mas teve curta duração. Nos anos 90, quando um fã na Sicília perguntou se ele se importaria de autografar os álbuns do Genesis, Hackett percebeu que ele sempre seria lembrado por sua participação naquela banda. Ali foi plantada a semente do que viria a ser a série de CDs e shows "Genesis Revisited".
O primeiro produto dessa empreitada nostálgica foi um CD de covers do Genesis com cantores convidados, lançado inicialmente no Japão, em 1996. Naquele país, ao final do ano, Steve apresentou-se com uma superbanda incluindo John Wetton (ex-King Crimson e ex-Asia) no vocal, baixo e guitarra, Ian McDonald (ex-King Crimson) na flauta, sax, guitarra, teclado e vocal e Chester Thompson (Frank Zappa, Genesis, Phil Collins) na bateria. O show saiu em CD e DVD no ano seguinte como The Tokyo Tapes.

Steve continuou lançando CDs solo com material inédito, além de outros trabalhos em parceria (com o saudoso baixista Chris Squire, por exemplo), mas a proposta de resgatar as composições do Genesis acabou se incorporando em definitivo às suas turnês. Além de um segundo álbum de covers, Genesis Revisited II em 2012, saíram vários CDs/DVDs/Blu-rays ao vivo contendo canções do antigo grupo. Como o Genesis não existe mais (e de qualquer forma já tinha descartado o rock progressivo havia muito tempo), essas apresentações são um presente para quem curte a fase clássica da banda, nos anos 70. A turnê brasileira de 2018, que começará em Porto Alegre, incluirá o vocalista Nad Sylvan, cuja voz é quase idêntica à de Peter Gabriel. Vai ser bonito de se ver e ouvir.